30 abril 2006

MOURINHO CAMPEÃO DE INGLATERRA

F. C. do Porto campeão de Portugal;
Barcelona campeão de Espanha;
Lyon campeão de França;
Juventus campeão de Itália;
Bayern de Munique campeão da Alemanha;
...

Mourinho campeão de Inglaterra.

28 abril 2006

PORTUGAL 2025

Roque Marinho é o decano dos professores de História. No início de Abril distribuiu por todos os outros 83 professores da sua escola um inquérito onde fazia apenas uma pergunta:
"- O que é para si o 25 de Abril?".
Muitas das respostas que obteve deixaram-no estarrecido: "- É o 25.º dia do 4.º mês de cada ano", dizia um, "- É o equinócio da primavera", dizia outro, "- É o nome de um filme sobre a Revolução Chilena", dizia ainda outro, "- É a data em que se realizou o primeiro Festival de Woodstock"... enfim, um nunca mais acabar de imbecilidades.
Preocupado pelo desconhecimento da razão de ser de uma data tão importante para a história do país, o professor Roque Marinho decidiu organizar uma conferência subordinada ao tema e aberta a todos os professores da escola que desejassem participar, para a qual convidou um historiador famoso.
Durante a conferência circulou uma lista onde cada participante escreveu o nome e a idade.
A média de idades dos professores participantes foi de 36,425 anos
Quantos professores da escola assistiram à conferência?
Ah! já me esquecia: 6 dos professores da escola não puderam participar na conferência porque foram acompanhar os alunos do 9.º ano numa visita de estudo a Óbidos.

A VITÓRIA DE "ANTÓNIO"

D. António Montes, vice-presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, é, também por inerência do cargo que ocupa, uma voz importante da hierarquia da Igreja. Ontem, ainda que com anos de atraso, veio dizer que a Igreja estaria disposta a considerar o uso do preservativo como um "mal menor". Embora não se compreenda bem como a Igreja contemporiza com o mal, ainda que menor, é de salientar a inversão da opinião da igreja acerca deste tema que motivou em tempos um olhar crítico do cartoonista António. Não sei se com a nova postura da Igreja sobre este assunto se vai passar a usar mais o preservativo, duvido até que isso se venha a verificar, mas o que não posso deixar de dizer era a revolta que me causava a pregação contra o preservativo enquanto quase metade da população da África subsariana se infectava com o vírus da SIDA. A igreja é uma estrutura dinâmica, não há qualquer dúvida, e reconhece os seus erros... embora que por vezes demasiado tarde.

25 abril 2006

MARÇO NUNCA MAIS!


“… e o professor Salazar […] em passinhos delicados de freira, ondulando os dedos transparentes para os vasos a cuidar que as flores o aplaudiam, e quem diz o professor Salazar diz o senhor almirante a cortar fitas de inauguração invisíveis com uma tesoura enorme seguido pelo seu cortejo de Diogos Cães engalanados, e quem diz o senhor almirante diz o cardeal lânguido, empalidecido pelos jejuns e mortificações da virtude, oferecendo o anel a beijar aos apliques e às caixas do correio, e quem diz o cardeal diz o major de Pide, pardo, oblíquo e sozinho como um empregado bancário viúvo, todos reunidos […] a decidirem de milagres com pastorinhos e de campos de concentração…”

in "O Manual dos Inquisidores", António Lobo Antunes

23 abril 2006

PANOPTICON VIRTUAL


“… os computadores […] forçavam a sua entrada em sistemas de dados protegidos. Quais fantasmas digitais, atravessavam paredes e surgiam em salas de armazenamento. O mundo exterior continuava a parecer igual, mas os fantasmas podiam ver as torres e as paredes ocultas do Panopticon virtual.”
in "O Viajante", John Twelve Hawks
Desde sempre o mundo tem sido um lugar perigoso para se viver... Pelo menos para alguns.
Talvez preocupado pela segurança, o jurista e pensador britânico Jeremy Bentham, concebeu, em finais do séc. XVIII, uma estrutura de forma circular, comportando vários andares, a que deu o nome de Panopticon e que funcionaria como uma prisão ideal. Na periferia do círculo situavam-se as celas totalmente abertas para o interior. No centro do anel existia uma torre de vigilância onde os guardas podiam ver os presos sem que estes os vissem. A cela não oferecia ao preso qualquer possibilidade de se esconder. Além do trabalho de vigilância poder ser desempenhado por um número diminuto de guardas, este sistema iria criar no preso a sensação que estava permanentemente sob vigilância, mesmo que isso não fosse verdade. Em última análise, seria o preso a controlar os seus actos.
Baseado no conceito de Panopticon, ainda que virtual, John Twelve Hawks, retrata em "O Viajante" um mundo onde, teoricamente, todos os cidadãos estão permanentemente vigiados, a menos que consigam viver fora da rede. É uma história perturbadora...
Talvez que esse mundo não esteja assim tão longe. Num julgamento mediático que actualmente se desenrola nos tribunais, os passos dos arguidos foram fielmente reconstituídos com a consulta de telemóveis, cartões de crédito, portagens de auto estrada, imagens de câmaras... como diria o viajante Gabriel “As pessoas querem acreditar que há uma ilha tropical ou uma gruta nas montanhas onde se podem esconder, mas hoje em dia isso já não é verdade. Quer gostemos, quer não, estamos todos ligados.”

20 abril 2006

AO PREÇO DA UVA MIJONA

Abriu hoje a Festa do Livro, na Praça da República. Logo que possa passarei por lá. Procurando bem, podemos ter a sorte de encontrar algo interessante. No ano passado, entre outras coisas, encontrei um livro delicioso ao preço da uva mijona: "A vida deste rapaz" de Tobias Wolff. Um livro autobiográfico que retrata a infância e adolescência do autor. As suas deambulações pela América profunda, seguindo a mãe, entretanto separada do pai. A dificuldade em enraizar-se em qualquer lugar. A relação tensa com os ocasionais companheiros da mãe. Enfim, uma pequena maravilha. Há uma versão "em celulóide" com o Robert de Niro e o Leonardo DiCaprio, mas não conheço. Se não leu, aconselho-o vivamente a passar por lá. Parece não ter grande procura por isso talvez encontre ainda um exemplar.

16 abril 2006

NÃO É POETA QUEM QUER...


"Vovó, você já está muito velha e quando eu voltar eu não vou ver você mais, mas eu vou ser cantor de rádio e você poderá ligar o rádio do Céu, se sentir saudades."

(Chico Buarque, com oito anos; bilhete para a avó.)

15 abril 2006

CRÓNICA ZIG-ZAG

Semanalmente, aos Sábados, Rui Reininho escreve no Jornal de Notícias. Não fora o modo peculiar como o músico escreve as suas crónicas e, por si só, isto não seria notícia. Todas as Segundas, talvez ainda moído pelos afazeres do fim de semana, Reininho tem dificuldade em dormir. Então, senta-se na frente do computador, liga-se à net e toca a navegar. Ao sabor do vento, já se vê. Tudo o que lhe soe, vai guardando, e, ao fim de algum tempo, quando acha que tem material suficiente para obrar uma bela coluna, cola tudo e vai cortando aqui e ali até ficar no tamanho conveniente. Agora é só enviar por correio electrónico para a redacção e, com a sensação do dever cumprido, pode, finalmente, dormir.
Estava a brincar. Apenas a primeira frase é verdadeira.
Mas, já agora: - Há por aí alguém que entenda as crónicas que o músico Rui Reininho escreve todos os Sábados no JN? Ou dito de outro modo: - Há aí alguém que consiga ler uma crónica do Rui Reininho até ao fim sem enjoar?

O CASCA-GROSSA

Há um ministro do nosso governo que tem o condão de fazer um grande estardalhaço sempre que se lembra de tomar qualquer decisão. Quem é o elefantinho? Quem é?
Depois, claro, durante umas boas semanas, meio país desbarata energias - essenciais para outras lutas -, insurgindo-se contra o político ou contra as suas políticas.
Nas minhas deambulações pela internet - estarei em pecado? - encontrei algo que talvez ajudasse a resolver o problema. Funcionaria assim: uns dias antes da tomada de qualquer decisão o referido ministro mandava colocar o sinal à porta do ministério e todos nós ficávamos avisados que o casca-grossa ia decidir.

14 abril 2006

O NOVO CATECISMO

Se no Vaticano não seguissem já o novo catecismo do Cardeal Stafford, teria lá chegado a opinião de D. Januário acerca dos novos pecados. Na sua voz desassombrada, como sempre, diz no 24 horas de hoje (não é pecado ler o 24 horas às Sextas porque traz o suplemento Bits e Bytes) que ler, ver televisão ou navegar na Internet não é pecado, é, isso sim, um acto de cultura. E, para quem o quiser ouvir, diz D. Januário Torgal Ferreira: "... a igreja devia ocupar-se de pecados realmente graves, como as barbaridades cometidas no Iraque, o armamento e a exploração de crianças pelo clero americano, esses sim, pecados bárbaros."

P.S. O Cardeal James Francis Stafford já veio desmentir a notícia publicada pela imprensa de todo o mundo. Como não podia deixar de ser, disse que se fez uma interpretação abusiva das suas palavras. Que não senhor, não foi bem isso que quis dizer... Está em pecado! Anda a ler demasiada imprensa portuguesa: ou em papel ou na internet ou, eventualmente, na televisão. Foi desse modo que aprendeu com os nossos políticos: declarar hoje; desmentir amanhã.

12 abril 2006

COZINHAS DA ÁFRICA

Metade da comitiva do Sócrates chegou de Angola com caganeira! Enquanto leio a notícia no Correio da Manhã vem-me à memória, sabe-se lá porquê, uma frase das "Memórias de Adriano" de Marguerite Yourcenar:
"Foi em Roma, durante as longas refeições oficiais, que me aconteceu pensar nas origens relativamente recentes do nosso luxo, nesse povo de cultivadores económicos e soldados frugais, alimentados de alho e cevada, subitamente emporcalhados pela conquista nas cozinhas da Ásia, tragando aquelas comidas complicadas com uma rusticidade de camponeses dominados por fome canina"

11 abril 2006

REGRESSO AO PASSADO

Na sua coluna do JN de ontem, Manuel António Pina dava conta de uma reportagem do The Guardian que denunciava uma verdadeira caça às bruxas nas instituições de ensino norte americanas.
Hoje acusam-se professores por antiamericanismo e suspendem-se por serem proguessistas ou por criticarem Bush.
Exortam-se os alunos a gravarem as aulas e a denunciarem os professores de esquerda ou amigos de gays ou aqueles que usam nas suas aulas textos obcurantistas.
Listas como The dirty thirty ou Os 101 mais perigosos professores da América são periodicamente actualizadas.
Criam-se associações de cidadãos vigilantes como a associação Pais contra os maus livros na escola.
Enfim, a história, afinal, sempre se repete.
A propósito: não se podería dar ordem de despejo ao inquilino da Casa Branca? É que o mundo ficaria, certamente, um lugar mais seguro...

TRABALHADORES DO COMÉRCIO

Na semana passada, um cronista da nossa praça insurgia-se contra os abespinhados portugueses que atendem o público nas lojas deste país. Na sua opinião não chegavam sequer aos calcanhares das eslavas e dos brasileiros.
Discordo!
A senhora da minha padaria, que é portuguesa, tem, nos 365 dias do ano, o sorriso de uma eslava e a boa disposição de um brasileiro.

10 abril 2006

O DINHEIRO SUJO DE JUDAS

Nos anos 70 do século passado, nas areias quentes de El Minya, no Egipto, é descoberto um manuscrito que esteve enterrado durante 1700 anos. Nos 30 anos seguintes circula de antiquário em antiquário até que chega a Zurique, às mãos de Frieda Nussberger-Tchacos. A sua intenção seria negociá-lo, mas, alarmada com a rápida degradação do códice, decide confiá-lo à Fundação Mecenas para a Arte Antiga da Suíça, em Basileia, para ser restaurado e traduzido. Cinco anos de intenso e ininterrupto trabalho e o Evangelho de Judas pode, finalmente, falar: "Este é o relato secreto da revelação que Jesus confiou em segredo a Judas Iscariotes três dias antes da Paixão", assim começa o documento. Judas que na tradição cristã sempre foi apresentado como o vil, o apóstolo maldito, aquele que entregou Jesus Cristo aos Romanos para ser crucificado, afinal pode tê-lo feito em conluio com Cristo. E isso porque Judas seria o favorito de Jesus e, por isso, aquele que Ele escolheu para o denunciar: "Tu excederás todos os outros. Pois tu sacrificarás o homem que me veste".
Depois desta descoberta, que os especialistas já vieram dizer que é autêntica e, além disso, havia já relatos que davam como certa a sua existência, a história não será propriamente reescrita, mas, do que parece não restarem dúvidas, é que abrirá a porta à reabilitação do mal amado Judas.
Enquanto a National Geographic desvendava esta descoberta, o Bispo da Funchal, na homilia do Domingo de Ramos, exortava os jovens a absterem-se de participar no Madeira Paradise Dance Festival 2006 que decorrerá na Sexta-feira Santa na Ponta do Sol. Dizia D. Teodoro de Faria: "Caros jovens, não vos deixeis seduzir em Sexta-feira Santa, por um evento musical que é uma falta de respeito às convicções religiosas do nosso povo. [...] Sexta-feira Santa é um símbolo sagrado, dia da morte de Jesus". Até aqui tudo bem. Compreende-se que D. Teodoro queira retirar os escolhos do caminho das suas ovelhas, mas, mais à frente, continuava D. Teodoro: "seduzir jovens para um megaconcerto em Sexta-feira Santa para negócio é sujar as mãos com o dinheiro de Judas"
D. Teodoro de Faria, Iminência, não seria do mais elementar bom senso ter-se abstido de falar do sujo dinheiro de Judas, pelo menos por agora?

07 abril 2006

A MINHA PAIXÃO SEGUNDO S. MATEUS


Aqui, sentado num banco da sexta fila da nave central da igreja do Convento de S. Domingos, vem-me à memória uma entrevista que em tempos li. A certa altura, o entrevistado, um director de orquestra americano, contou uma história cujos contornos guardo até hoje. Contava ele que no dia 22 de Novembro de 1963 iria dirigir uma orquestra num concerto importante. Até aqui nada de anormal. Mas eis que, passada meia hora do meio dia, começam a chegar notícias aterradoras de Dallas. À uma da tarde o horror confirmava-se: John Kennedy, o 35.º Presidente dos Estados Unidos da América, era assassinado com dois tiros, enquanto desfilava, em carro aberto, pelas ruas da cidade. Recordo-me que o director dizia que a decisão natural, conhecida que era a tragédia, teria sido cancelar o concerto mas ele recusou-se a fazê-lo. Naquela altura a única coisa capaz de aplacar a tristeza que sentia era ir para a frente da orquestra. Foi o que fez. Não me recordo já se o programa contemplava qualquer obra de Bach mas do que me recordo é do maestro dizer que, naquela altura, só a música do compositor alemão lhe poderia apaziguar a mágoa que sentia, sem que isso beliscasse a memória de um homem que muito admirava.
O meu Benfica acaba de perder com o Barcelona e eu, aqui sentado num banco da sexta fila da nave central da igreja do Convento de S. Domingos, recordo-me, não sei bem porquê, desta entrevista que li há já muitos anos. No altar-mor a orquestra dá os primeiros acordes. As cerca de cinco dezenas de vozes do coro começam a entoar as primeiras palavras: "Requiem aeternam dona eis domine...".
Nesta tormentosa noite de Primavera, o Requiem de Mozart será a minha paixão segundo S. Mateus.