15 agosto 2008

ADEUS ATÉ AO MEU REGRESSO

Nos tempos da guerra colonial, chegados que éramos ao Natal, lá tínhamos a monopolista RTP exibindo durante a quadra os filmezinhos que previamente tinha gravado no teatro de operações. Tudo se passava mais ou menos assim: no meio da mata, uma câmara fixa, um arremedo de jornalista empunhado um microfone e uma fila enorme de militares. Iniciada a coisa, o primeiro da fila avançava, dizia o que tinha a dizer – normalmente: “para os meus pais, irmãos, madrinha de guerra e restante família, desejo um feliz natal e um ano novo cheio de propriedades. Eu estou bem. Adeus até ao meu regresso” – e saía em passo de corrida para dar o lugar ao seguinte que, com uma ou outra nuance, diria o mesmo. Lembrei-me disto, a primeira vez que vi aquelas fotos ridículas que a SIC insiste em mostrar-nos no fim de cada Jornal da noite. Agora que não temos guerra e as reportagens da quadra natalícia são feitas nos Centros Comerciais, a dita estação teve a infeliz ideia de pedir aos espectadores que mandassem fotografias das suas férias de verão para serem exibidas em horário nobre. Além da imbecilidade da ideia – quem teria sido o iluminado? -, a ver pela qualidade das obras, não deve haver qualquer trabalho prévio de selecção, isto é, tudo o que chega vai para o ar. E então é ver toda a sorte de figuras grotescas que vamos fazendo pelas sete partidas do imaginário da nossa classe média, das Caraíbas ao Pacífico Sul. A Alta Autoridade para a Comunicação Social devia admoestar os autores.