15 maio 2010

MÃES DE TORRE DE DONA CHAMA

Vai para sete anos que Bragança chegou a capa da Time. Tal proeza, até aí, só o ditador Salazar e o perigo vermelho do PREC tinham logrado alcançar. Por essa altura, instalavam-se nos arrabaldes da cidade uma larga provisão de roliças moreninhas e as casas de perdição cresciam como cogumelos. No dizer avalizado d’As mães de Bragança, as meninas estavam a competir com elas pelos favores dos maridos: a competir e a ganhar, diga-se. Mas as despeitadas esposas não se deram por vencidas: foi tal o estardalhaço que fizeram que conseguiram chamar a atenção da insuspeita revista que dedicou ao assunto a capa e uma desenvolvida reportagem sobre o novo Bairro Vermelho da Europa. Sempre uns exagerados estes ianques. Depois de muita luta, as mães ganharam. As meninas tiveram de procurar o sustento noutras paragens e os maridos, vencidos, lá tiveram de voltar para o ambiente desenxabido do lar. Mundo injusto, este…
De há sete anos para cá que em Trás-os-Montes não acontecia nada. Nem o primeiro-ministro, rodeado de pinguins amarelos na lama do túnel do Marão a dizer as barbaridades do costume conseguiu prender as atenções. Há sete anos que não acontecia nada até que apareceu a professora Bruna de Torre de Dona Chama. E o que fez a setôra Bruna? Espalhou por oito páginas da Playboy o melhor que tinha para mostrar. E não há dúvidas: se as suas capacidades pedagógicas forem directamente proporcionais àquilo que lá se vê podemos ficar descansados: as novas gerações terão bons mestres. Quem não gostou do que viu foi a patroa da docente, no caso a vereadora Gentil Vaz da Câmara de Mirandela, que tudo fará, afirmou, para despedir a sua assalariada. E aqui tem o firme apoio do director da escola, José Pires Garcia, que, disse, mal teve conhecimento do assunto, contactou a autarquia por correio electrónico (nada como despir-se uma professora para o director da escola comunicar por correio electrónico). E o doutor Garcia não podia ter sido mais pires: instou a Câmara Municipal para que tome rapidamente uma atitude porque aparecer numa revista sem roupa não é compatível com a função de educadora, sendo nocivo para a comunidade escolar mantê-la no agrupamento.
Vê-se à légua que nem o director Pires nem a vereadora Gentil têm aptidões para desempenhar, com as mínimas garantias de sucesso, as funções que desempenham. Deviam saber que nas modernas técnicas de gestão é um crime não rentabilizar os activos nem aproveitar as sinergias da organização. Ora, com decisões destas, tanto um como outro estão a delapidar – as oito páginas da Playboy aí estão para o comprovar – aquilo que de melhor há pela escola de Torre de Dona Chama. Nunca por lá se tinha visto os pais das criancinhas tão interessados na vida escolar dos seus rebentos e vem agora o doutor Pires deitar tudo a perder. Com decisões destas o doutor Pires nunca chegará aos calcanhares do colega de Zalaegerszeg que se recusou a despedir um activo que, sabia, daria muito a a ganhar à sua escola.
Pouca sorte a da professora Bruna: tivesse nascido na Hungria e teria emprego assegurado na escola.. ou em em Itália e teria um lugar em Estrasburgo à sua espera.

02 maio 2010