AOS MEUS ALUNOS, NA HORA DE PARTIR
Quando
tinha a tua idade acho que nem nos meus sonhos mais ousados me veria como
professor: seria, isso sim, um trabalhador da indústria. Mas, para o bem ou
para o mal, os sonhos nem sempre se concretizam e a vida encarregar-se-ia de me
retirar das oficinas. Não sei se alguém, além de mim, ficou a ganhar com a
troca, mas confesso que em boa hora a vida me pregou tal partida e me fez
professor. Embora, reconhecendo, humildemente, que muitas vezes falhei,
confesso que apesar dos revezes, continuo a amar esta profissão e, sem
desânimo, recomeço uma e outra vez. Continuo até hoje a levantar-me todos os
dias como se fora o primeiro e à espera já do último com irreprimível nostalgia.
Estás prestes a iniciar uma nova etapa na tua, ainda, curta vida; a cruzar a fronteira, como diria a poeta(1). Será um mundo admirável aquele a que chegarás e que, tenho a certeza, com a tua generosidade, o ajudarás a construir mais justo, mais inclusivo e mais solidário. Melhor, certamente, do que aquele que te deixamos. E quando tudo tiver acabado e contar a vida na escola falarei da emoção que me causou a tua alegria quando descobriste a solução do problema, do orgulho que senti quando me confidenciaste que, sem a minha ajuda, não terias conseguido, da alegria imensa de te ver feliz na sala de aula. Contarei estas pequenas coisas, estas coisas simples de que, alguém dizia(2), «nos despedimos insensivelmente», mas que continuo a acarinhar porque é disto que a escola é feita. Guardo-as no meu escaninho mais secreto porque, mesmo não salvando ninguém, dão-me um prazer tão grande que força alguma mo poderá arrancar.
Obrigado por tudo o que
partilhaste comigo. Conserva sempre esse brilho nos olhos e nunca deixes de
sonhar. Quando precisares de alguém que oiça os teus sonhos cá estarei para
ouvi-los.
Até sempre!
(2) Tejada Gómez, “Canción de las simples cosas”