A história foi contada por John Allen Paulos, professor universitário de Matemática em Filadélfia. Um empresário, cujos negócios reclamavam constantemente a sua presença nos mais variados locais do globo, alarmado com a falta de segurança nas viagens aéreas e com as preocupantes notícias de tomadas de aviões por terroristas a soldo de organizações apostadas em subverter a ordem estabelecida, decidiu fazer algo em prol da defesa da sua integridade física.
Na semana seguinte teria de se ausentar novamente para uma área do globo de onde chegavam notícias pouco animadoras em matéria do cumprimento da lei e da ordem. Começou então por telefonar para a agência de viagens. Queria saber qual a probabilidade de haver uma bomba a bordo de um avião. O funcionário da agência achou a pergunta estranha, mesmo para os tempos que corriam, mas lá lhe disse que a probabilidade de isso acontecer era muito baixa, não mais do que 1 para 10 000. O empresário, parecendo não ficar muito satisfeito com a resposta, agradeceu e desligou. Pouco depois o telefone da agência voltou a tocar. Era novamente o senhor da bomba. Agora queria saber qual seria a probabilidade de haver duas bombas a bordo do mesmo avião. Se já a primeira pergunta lhe tinha parecido disparatada esta ainda mais, mas, conhecedor do cálculo de probabilidades, o funcionário da agência de viagens lá lhe foi dizendo que a probabilidade de haver duas bombas a bordo do mesmo avião seria o quadrado da probabilidade de haver apenas uma, logo, não mais do que 1 para 100 000 000. Agora sim, o industrial ficou contente com a resposta. Agradeceu, agora de uma forma mais expansiva, e desligou.
Algum tempo mais tarde, o funcionário da agência de viagens leu num jornal que num aeroporto tinha sido preso um passageiro que se preparava para embarcar com uma bomba na bagagem. Quando a polícia o interrogou, disse que levava a bomba na mala apenas para diminuir o risco de haver uma bomba a bordo.
Lembrei-me desta história quando li um estudo onde se dava conta dos proventos auferidos pelos gestores da nossa praça. Apesar de levarem para casa bem mais que os seus colegas Japoneses, Finlandeses ou Noruegueses, estranhei aquelas quantias tão magras para quem tem a maçada de dirigir grandes empresas – ainda que por vezes seja para arruiná-las – de modo tentei aprofundar a coisa. E lá estava: tal como o empresário cagarolas – ou previdente, não sei, nem consegui apurar – que viajava com uma bomba na mala para baixar a probabilidade de um atentado a bordo, também o autor do estudo juntou à amostra todo o bicho careta que se intitula de gestor, parece que para baixar os números, e foi naquilo que deu. Caso contrário os resultados teriam sido bem mais consonantes com aquilo que, infelizmente, se vai ouvindo dizer. Se não note-se: em média os nossos gestores auferem 230 ooo euros por ano, contas redondas, diz o estudo, mas isto é quando se introduz o “factor da bomba” porque se assim não fosse os números seriam assustadores. Sim, assustadores. Se não vejamos: considerando apenas os gestores de todas as empresas cotadas na bolsa o pecúlio subiria para quase o triplo deste valor, em rigor 595 000 euros, o que nos colocaria em segundo da lista só ultrapassados pelos abastados gestores americanos, mas, se apenas se considerassem os gestores das empresas que compõem o PSI 20concluir-se-ia que, em média, cada gestor leva todos os anos 777 000 euros para casa, ou, para se compreender melhor a desumanidade do número, cada gestor ganha tanto num ano como um trabalhador auferindo o salário mínimo, contando já com o aumento prometido e os 14 ordenados anuais, ganharia em 3 vidas – isso mesmo, 3 vidas, 117 anos de trabalho.
Sem comentários:
Enviar um comentário