Um dia, um empresário com medo de andar de avião, telefonou para uma agência de viagens, procurando inteirar-se da probabilidade de haver uma bomba a bordo. O funcionário da agência achou a pergunta estranha, mesmo para os tempos que correm, mas, habituado a ouvir perguntas estranhas, lá foi dizendo que a probabilidade de isso acontecer era muito baixa, não mais do que 1 para 10000. O empresário, parecendo não ficar muito satisfeito com a resposta, agradeceu e desligou. Pouco depois o telefone da agência voltou a tocar. Era novamente o senhor da bomba. Agora queria saber qual seria a probabilidade de haver duas bombas a bordo do mesmo avião. Se já a primeira pergunta lhe pareceu disparatada esta ainda mais, mas, conhecedor do cálculo de probabilidades, o funcionário da agência de viagens lá lhe foi dizendo que a probabilidade de haver duas bombas a bordo do mesmo avião era insignificante. Seria o quadrado da probabilidade de haver apenas uma, logo, não mais do que 1 para 100 000 000. Agora sim, o assustadiço homem de negócios ficou contente com a resposta. Agradeceu calorosamente e desligou.
Algum tempo mais tarde, o funcionário da agência de viagens leu num jornal que num aeroporto tinha sido preso um passageiro que se preparava para embarcar com uma bomba na bagagem. Quando a polícia o interrogou, disse que levava a bomba na mala apenas para diminuir o risco de haver uma bomba a bordo.
Lembro-me desta deliciosa história, contada pelo matemático americano John Allen Paulos, sempre que oiço os nossos políticos a falarem de números, de percentagens e de estatísticas. Onde nós, ignorantes, vemos desgraça nos números do desemprego vem um ministro e diz que, comparando com não sei quê, estamos no bom caminho; onde nós, agoirentos, vemos a taxa de crescimento a apontar para o chão vem um secretário de estado dizer-nos que se compararmos com não sei quanto o amanhã será risonho; onde nós, desconfiados, vemos criatividade na opulência dos resultados dos exames de Matemática, lá temos o porta-voz do governo para nos lembrar que somos pobres e mal agradecidos e já não conseguimos, sequer, acreditar nas capacidades dos nossos jovens. Enfim, estamos na mão de gente tão ignorante quão perigosa. Ainda ontem o INE nos veio dizer que afinal o deficit de 2010 não foi de 6,9 nem de 8,6 mas sim de 9,1% do Produto Interno Bruto. E o nosso drama é que nem sabemos sequer se a desgraça se fica por aqui. Os nossos políticos que enchem a boca com juras de amor à pátria e promessas de trabalho incansável e desinteressado em prol do bem comum, andam, isso sim, a espalhar bombas por todo o lado, armadilhando o futuro de todo um povo. E, note-se, até nisso a sua incompetência salta à vista: colocaram as bombas para estourar quando eles já estivessem a salvo e afinal eis que lhes começam a rebentar nas mãos. Estamos, pelo menos há seis anos, nas mãos de um bando de prestidigitadores. Até quando?
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