Há tempos, numa das minhas habituais rondas pelos blogs “amigos” descobri um comentário que um energúmeno achou por bem deixar em vários deles. Dizia mais ou menos isto: “Blog de merda, este. Quem não sabe dizer mais nada, põe fotografias”. Se bem que o comentário fosse injusto para muito dos destinatários, confesso que me deu uma enorme vontade de rir ao ler tal coisa. Penso que o intuito do endemoninhado era chocar, o que, em parte, terá conseguido. Quem visitasse o seu poiso podia ver toda a sorte de impropérios com que os ofendidos acharam por bem obsequiá-lo.
Lembrei-me deste episódio quando um amigo meu me enviou um artigo de opinião com que Emídio Rangel “valorizou” as páginas do novel jornal Correio da Manhã: “Hooligans em Lisboa”.
Comecemos pelo princípio. Parafraseando o arreliador dos blogs: “Crónica de merda esta. Por estes dias quem não tem mais nada para dizer escreve sobre os professores”. Depois, analisando-a em mais pormenor, descobre-se um chorrilho de imbecilidades. Vejamos algumas: Emídio Rangel, não poupa elogios aos seus professores que “não tinham nada que ver com esta gente” a quem agradece por tudo o que lhe ensinaram. Não duvido que assim seja, só que talvez o aluno não tenha aprendido o que lhe era ensinado. Os seus professores não teriam, certamente aprovado os seus métodos, quando, utilizando os melhores modos de tasca, se refere a “um tal Mário Sequeira”, fazendo lembrar aqueloutro que se referia a um tal Pinto de Sousa. Linguagem de quem pouco aprendeu nos bancos da escola.
Rangel coloca no mesmo saco todos os “professores travestidos de operários da Lisnave”. Continua a não aplicar os conhecimentos que os seus professores lhe transmitiram. Se o fizesse nunca poderia dizer que os dois terços dos professores que desceram a Lisboa eram “pseudoprofessores que trabalham pouco, ensinam menos, não aceitam avaliações e transformaram-se em soldados do Partido Comunista para todo o serviço”. De seguida mete os pés pelas mãos e diz que “felizmente ainda há milhares de professores, talvez a maioria, que exercem com toda a dignidade a sua profissão”. Repa-se: os dois terços que “vestem de preto e gritam desalmadamente” são todos uns “madraceirões” e foram urrar para Lisboa, o terço que ficou, talvez a maioria, afinal são dos bons. Esperamos todos que o seu venerável professor de matemática não tenha lido o artigo. Envergonhar-se-ia.
Na parábola dos cegos, quando um deles apalpou a tromba ao elefante, jurou a pés juntos que um elefante é uma enorme serpente que se enrola. Emídio Rangel, que “deu aulas”, não sabe que dar aulas não é, longe disso, o mesmo que ser professor. Rangel não o sabe e talvez não o venha já a aprender – demonstrou ser um fraco aluno ainda que com bons professores –, por isso, tal e qual como os cegos, continuará a bater-se pela defesa da sua visão parcial do problema. Entretanto, os nossos alunos continuarão a experimentar soluções de mentes providenciais que, um dia, “deram aulas”
Outra evidência que esta é uma verdadeira crónica de merda é o facto de Emídio Rangel repetir, sem que ao menos tenha introduzido um arabesco de sua lavra, o discurso que a Ministra da Educação, “uma ministra sábia, tranquila, dialogante, que fala com uma clareza tal que só os inúmeros boatos, a manipulação e a leitura distorcida do que propõe podem beliscar o que de boa fé pretende para Portugal”, se tem esfalfado a fazer passar: “introduziu um sistema de avaliação de professores, chamou os pais a intervir, fechou as escolas sem alunos, prolongou os horários e criou as aulas de substituição, resolveu os problemas de colocação de professores, introduziu o Inglês, levou a informática aos lugares mais recônditos do País”. E continua dizendo que estas e outras medidas já deram frutos. Outra intrujice. Se tivesse ouvido os seus saudosos professores saberia que em educação não se pode dizer, passado que foi apenas um ano, que as reformas já dão frutos.
Enfim, por todo o texto perpassam duas coisas: a primeira, uma estranha animosidade para com os professores e a segunda uma enorme ignorância do que é hoje a educação.
Quando chegar a ministro, se algum lambe-botas escrever algo deste género, darei instruções aos serviços para que jamais seja admitido no ministério.
4 comentários:
Se há coisa que jamais alguém, com juízo, comentará no teu blog é que “é de merda”.
A crítica ao artigo é excelente! Tomara o sr.Rangel ter a mesma capacidade analítica! O problema é que, nesta terra, vozes de burro chegam muitas vezes ao céu! E depois é o que se vê! Se os professores do sr. Rangel fossem avaliados pelos critérios vigentes, mesmo sendo muito bons, como ele próprio afirma, teriam avaliação negativa em face da “qualidade dos produtos”.
Registo com agrado a tua ambição política e faço votos que chegues rapidamente a ministro. Já tens um voto!
Helena Guerreiro
Ainda bem que o Sr. Rangel que, como sabemos, é especialista em furar portas com berbequins, é um ser ilumindao. Sorte a dele não haver avaliação na sua classe (se é que a tem!).
As palavras dizem mais sobre quem as escreve do que sobre as pessoas a quem se referem.
Um abraço.
...Pois... o que eu acho é que ninguém atribui qualquer valor aquilo que o Rangel Rambo diz ! Com estas coisas sou obrigado a juntar forças com a Helena, e já contas com dois votos....Grande abraço !!
Foi professor?!... melhor, já deu aulas?!...de quê?!...
A SIC tem sido uma boa estação de TV, mas, infelizmente deu a este senhor uma visibilidade exagerada e imerecida...
Mais um voto...
Enviar um comentário