08 março 2010

DIA DE TODAS AS MUHERES

Neste dia recordo quem me contava histórias e lembrava lendas a todo o momento. Recordo de quem aprendi papões, borralheiras e naus catrinetas e mil ladainhas e histórias de reis, fadas e dragões, coisas de encantar;
Neste dia recordo todas aquelas que me povoaram – e continuam a povoar até hoje – dias e noites de sonhos inconfessáveis;
Neste dia recordo todas aquelas de quinze anos, dezasseis, dezassete, cheirando a mato, à sopa dos pobres, a infância sem quarto, a suor, a chiclete, de quem usamos seu corpo e pagamos seu preço;
Neste dia recordo todas aquelas a quem a voracidade, a ignorância e o desprezo dos homens roubou a infância e recordo todas as outras para quem Março nunca chegou;
Neste dia recordo a Laurinda e todas as Laurindas do mundo que seguiram os seus sonhos e pagaram por isso.
Neste dia de Março recordo-as a todas e lembro-me, em especial, de ti. Tem um bom dia e que o calendário permaneça, para todo o sempre, em Março.

03 março 2010

ELOGIOS BANTAS

Confesso que nutro pelo ministro Luís Amado uma certa admiração. Essencialmente, por três razões. Em primeiro lugar porque gosto de ver a forma contida como usa as palavras. Tenho para mim que um ministro, ainda para mais se for dos Negócios Estrangeiros, deve usar da diplomacia, até no uso da palavra, que é, todos o sabemos, uma mercadoria valiosa, logo para ser usada com parcimónia. Nada como aqueles seus colegas palavrosos que acreditam piamente que uma mentira mil vezes repetida é uma verdade. A segunda razão é, digamos assim, mais do foro solidário: por mais tempo que passe não consigo esquecer aquele episódio caricato na entrada para uma cimeira durante a Presidência Portuguesa da União Europeia em 2007 quando ele e o primeiro-ministro avançavam, um para o outro, de mão estendida para se cumprimentarem. Quando as mãos se encontravam já a poucos centímetros uma da outra, Sócrates, olhando por cima do ombro do seu ministro e vendo um outro conviva mais apelativo, deixou o ministro Amado de mão espetada e de expressão aparvalhada e avançou para o convidado. Todos nós, que já estivemos nesta situação, sabemos como dói. O ministro Amado não merecia. A terceira razão, mas não a menos importante, tem a ver com as competências do ministro. Acho que tem desempenhado de uma forma competente e empenhada o lugar para o qual foi escolhido. E isso é o que se pede a um ministro.
Anteontem o ministro Amado que, mau grado uma evidente capacidade de privilegiar o essencial em desfavor do acessório, não está imune à onda de vitimização que grassa entre o governo da nação, disse que só ouve dizer mal de Portugal em Portugal, em contraste com os elogios ao país que ouve constantemente de dirigentes dos países que visita. Eu que nutro pelo ministro Amado uma certa admiração não me coíbo de lhe enviar daqui um puxão de orelhas. Quando fez estas declarações regressava de uma visita à Suazilândia mas a soberba não lhe permitiu descortinar que os elogios dos Suazis eram endereçados tão só a uns gajos que passaram por lá há mais de quinhentos anos, o Dias e o Gama.

PS: Depois se ter visitado a Suazilândia, o ministro nem desfez as malas e partiu para o Lesoto. Não ouvi relatos desta viagem mas consigo adivinhar que lhe disseram o mesmo. Espero que desta vez o bom ministro tenha descoberto que os bantas não se referiam ao Sócrates.

Ministro da triste figura, aqui