28 fevereiro 2007

NÃO O FAZEMOS POR MAL...

A minha amiga Helena Guerreiro é uma pessoa atenta às fraquezas do género humano, em especial quando as fragilidades se manifestam na parte masculina da questão. Há uns dias presenteou os homens do seu rol de endereços – do qual me dá o prazer de fazer parte –, com uma lista de obscenidades que, confesso, de início me estava a deixar fulo. Devo, no entanto, dizê-lo, que quando cheguei ao fim soltei umas saborosas gargalhadas. Era, claro, uma caricatura, mas, por isso mesmo, havia em tudo aquilo um fundo de verdade pelo que só me resta dizer: Mulheres, perdoem-nos! Fazemo-lo, realmente, mas não o fazemos por mal! É que somos mesmo assim!
Mas vamos às maldades da Helena:


“A cozinha fora de casa”
Talvez porque há um certo risco envolvido na actividade, este é o único tipo decozinha a que um verdadeiro homem se deve dedicar. Contudo, não é tarefa fácil. Quando um homem aceita fazer o Barbecue põe-se em marcha uma cadeia de acções:
1.º A mulher compra os alimentos;
2.º A mulher faz as saladas, prepara as batatas fritas, o arroz e a sobremesa;
3.º A mulher prepara a carne para ser cozinhada, tempera-a, coloca-a numatravessa e leva-a ao homem que já está à espera ao pé do grelhador, de cervejafresca na mão.
Aqui vem a primeira parte realmente importante da questão:
4.º O homem coloca a carne na grelha;
5.º A mulher vai para dentro e põe a mesa;
6.º A mulher apercebe-se que o homem está com os outros homens a contar anedotas e vem cá fora a correr a avisar que a carne se está a queimar;
7.º O homem aproveita e pede-lhe mais uma cervejinha fresquinha;
8.º A mulher vem cá fora trazer a cerveja e uma travessa... e é então que aparece a segunda parte importante do processo:
9.º O homem tira a carne da grelha e entrega-a à mulher;
10.º Depois de comerem, a mulher tira a mesa, lava a louça, arruma a cozinha e lava a grelha;
11.º Toda gente dá os parabéns ao homem pela fantástica refeição que elepreparou;
12.º O homem pergunta à mulher se lhe soube bem o tempo de folga de que usufruiu e, perante o ar chateado dela, conclui que há mulheres que nunca estão satisfeitas com nada.

26 fevereiro 2007

E VAI MAIS UM

Nos anos sessenta e setenta do século passado, sempre que um dos seus pilotos via a bandeira de xadrez ser-lhe mostrada, Colin Chapman, esfuziante de alegria, atirava o boné ao ar. Fê-lo dúzias de vezes.
José Mourinho, personalidade vincada como o inglês mas mais expansivo, quando ganha, atira-se, ele próprio, ao ar. Ontem, pela décima primeira vez na sua ainda curta carreira, Mourinho saltou. A sua equipa, o Chelsea F.C. de Londres ganhou a Taça da Liga.
Parabéns, Mourinho!

23 fevereiro 2007

O PESSOAL DA 3.ª FASE JÁ CHEGOU!

Todos os anos pelo Natal - tempo que se quer de paz e tolerância -, o presidente da República concede alguns indultos a pessoal encarcerado que tenha dado mostras de arrependimento e boa conduta. O Ministério da Justiça, depois de devidamente analisado o processo do preso, propõe a sua soltura ao Presidente.
No último Natal, cumpriu-se o ritual e perdoou-se parte da pena a uma quantidade de engaiolados. Entre os felizardos contava-se um empresário da noite do Alto Alentejo. Até aqui tudo bem. Mas eis que uns chatos do Expresso, na obsessiva procura de cachas descobrem que afinal o indultado não deveria tê-lo sido já que o seu processo era um manancial da ilegalidades das quais se destacam uma condenação anterior a quatro anos e meio de cadeia e o facto de contra ele impenderem vários mandatos de captura nacionais e internacionais por ter fugido do país. Depois desta bomba ter chegado às bancas, o Ministro apressou-se a incumbir a Inspecção-Geral dos Serviços de Justiça a abrir um inquérito de averiguações a este lamentável acontecimento com recomendação expressa de lhe ser facultada uma resposta num curto espaço de tempo. O pessoal do ministério ter-se-á atarefado porque, poucos dias volvidos, e eis que a nação ficou a saber a que se ficou a dever tamanha trapalhada: na instrução do processo do indulto presidencial, a cargo do Tribunal de Execução de Penas de Lisboa, foram reunidos elementos, provenientes da Polícia Judiciária e do Registo Criminal, que não foram tomados em consideração. Tais elementos encontravam-se actualizados mas os «registos em causa não eram de leitura evidente».
Depois desta peça lapidar lembrei-me de um mail sobre as fases do ensino em Portugal que tinha recebido há tempos. Dizia:
1.ª FASE (antes de 1974)
O aluno ao matricular-se ficava automaticamente chumbado. Teria de provar o contrário ao professor.
2.ª FASE (até 1992)
O aluno ao matricular-se arriscava-se a passar.
3.ª FASE (até 2006)
O aluno ao matricular-se já transitou automaticamente de ano, salvo casos excepcionais e devidamente documentados pelo professor, que terá de incluir no processo, obrigatoriamente, um "curriculum vitae" detalhado do aluno e, em alguns casos, da própria família.
4.ª FASE (a partir de 2007)
O professor está proibido de chumbar o aluno. Nesta fase quem é avaliado é o professor, pelo aluno e respectiva família, correndo o risco, quase certo, de chumbar.

É caso para dizer que o pessoal da 3.ª FASE já chegou. Imagine-se o que será quando chegarem os da 4.ª.

18 fevereiro 2007

FEIOS E MAUS, APENAS.

De vez em quando a comunidade científica decide obsequiar-nos com os mais disparatados estudos. Todos nós, em qualquer ocasião, já tomamos conhecimento de estudos que, além de servirem para nos atazanar a cabeça e delapidar o erário público, não servem para mais nada. Não é o caso de um estudo que a insuspeita revista Science publicou recentemente. Se é verdade que as conclusões não serão de molde a tornar o mundo melhor – acho eu –, servirão, pelo menos, para trazer um pouco de justiça à eterna disputa sexo forte vs sexo fraco. Até agora o meu era o lado dos feios porcos e maus. A partir das conclusões deste estudo, que todos nós, de resto, já suspeitávamos, passaremos a ser, tão só, feios e maus.
O estudo, patrocinado pelo professor de Ciências Ambientais da Universidade do Arizona, Charles Gerba, revela que as mulheres acumulam três ou quatro vezes mais germes do que os homens nas suas secretárias, telefones, computadores, teclados, gavetas e objectos pessoais, havendo, regra geral, 400 vezes mais bactérias nas mesas de trabalho do que nos sanitários dos escritórios. O Dr. Gerba diz ainda que os alimentos são a principal fonte de bactérias, assumindo este facto um nível preocupante, já que 75% das mulheres têm algo para debicar nos seus escritórios. "Estava convencido de que os homens gerariam mais germes, mas as mulheres [...] guardam comida nas suas mesas, problema a que se acrescenta a maquilhagem", afirmou o autor do estudo. Nas gavetas, e demais escaninhos dos escritórios, as mulheres armazenam guloseimas, cosméticos e outros produtos, comestíveis ou não, que constituem um agente de primeira grandeza para originar ninhos de germes.
O estudo concluiu que, no caso dos homens, os maiores focos de germes são as carteiras e as agendas electrónicas. No caso das primeiras, se forem guardadas no bolso de trás das calças, os germes estarão no seu elemento natural já que lhes é proporcionado um lugar morno e cómodo(1) para se desenvolverem.

(1) imagino o caldinho bacteriológico presente na carteira de um certo declamador de poesia da nossa praça.

13 fevereiro 2007

O NEW YORK TIMES DO ALBERTO JOÃO

Anteontem, quando as televisões mostraram o Alberto João, à saída da assembleia de voto, vociferar contra os de Lisboa – que estão a roubar a Madeira, que vão ter de responder em tribunal –, lembrei-me de John Rockfeller.
John Davison Rockfeller, nascido em 1839, foi um industrial e filantropo americano que juntou uma fortuna incomensurável – ganhar dinheiro é um dom de Deus, dizia. A cotações actuais, John D. valeria quase tanto como três Bill Gates. Antes de a sua empresa de extracção, refinação e comercialização de petróleo, a Standard Oil, ter sido desmantelada pelo governo com base na Lei Antitrust, recentemente aprovada, era responsável por noventa por cento de todo o petróleo que circulava dos Estados Unidos da América.
Conta-se – conta-o José Saramago n’O Ano da Morte de Ricardo Reis –, que para o fim da vida, Rockfeller morreu em 1937 com a provecta idade de 98 anos, enquanto a América se debatia, ainda, com as sequelas da grande depressão e na Europa os sinais do caos que se avizinhava eram já bem visíveis, o New York Times fazia todos os dias um exemplar único do jornal, falsificado de uma ponta à outra, só com notícias agradáveis e artigos optimistas para que o pobre velho não [tivesse] de sofrer com os terrores do mundo e suas promessas de pior.
O Jornal da Madeira, agraciado com 4,6 milhões de euros pelo Governo Regional do arquipélago, para manter o pluralismo na comunicação social, é o New York Times do Alberto João Jardim. Apenas com uma pequena diferença: na América foi o jornal quem tomou a iniciativa de publicar um número extirpado dos horrores e colorido de quimeras para não ferir os débeis ouvidos nem os baços olhos do ancião, na Madeira é o próprio que o manda fazer para que no dia seguinte, ao pequeno almoço, possa ler um jornal mondado das notícias que falam de uma democracia de opereta onde não há pluralismo ideológico nem pluralismo na comunicação social.

03 fevereiro 2007

A IDADE DAS TREVAS

- Pai […], – que dizem os livros acerca de nós, camponeses?
- Dizem que somos animais, brutos, e que não somos capazes de entender o que é a cortesia. Dizem que somos horríveis, vis e abomináveis, desavergonhados e ignorantes. Dizem que somos cruéis e toscos, que não merecemos nenhuma honra porque não sabemos apreciá-la, e que só somos capazes de entender as coisas à força. Dizem que…

A Catedral do Mar é um romance sobre a ignorância, o medo, o ódio e a intolerância. É um romance sobre a prepotência do feudalismo, a demência da inquisição, a ambição desmedida e o fanatismo religioso. Ponç apresentou a caução que o corregedor lhe solicitara, e este entregou-lhe Joana. Construiu na sua horta um cubículo de dois metros e meio por um metro vinte, fez um buraco para que a mulher pudesse fazer as suas necessidades, abriu aquele janelinha para que Joanet, nascido nove meses após a sentença e nunca reconhecido por Ponç, se deixasse acariciar na cabeça, e emparedou para toda a vida a sua jovem esposa. A Catedral do Mar é um romance sobre as trevas.
Se fosse só sobre isto já seria muito mas A Catedral do Mar, o belo livro de Ildefonso Falcones, é também uma obra sobre o amor, o arrependimento, a honra, a luz e a vitória do bem sobre o mal.
A acção desenrola-se no principado da Catalunha durante o séc. XIV e tem início na quinta de Bernat Estanyol, no dia do seu casamento.
- Estanyol! – gritou Llorenç de Bellera, pondo-se de pé com Francesca agarrada pelo pulso. – Usando do direito que como teu senhor me assiste, decidi deitar-me com a tua mulher na primeira noite.
É este episódio que irá precipitar a prodigiosa aventura de Bernat Estanyol e seu filho Arnau, desde Navarcles, terras do cruel cavaleiro Llorenç de Bellera, até Barcelona, em busca da paz e da liberdade.
Paralelamente ao desenrolar da história assiste-se à construção da bela Catedral de Santa Maria del Mar, uma catedral construída, realmente, pelo povo. Arnau terá um papel importante nesta obra prodigiosa. Começando por carregar pesados blocos de rocha desde as pedreiras reais de Montjuic, chegaria a um verdadeiro mecenas da catedral, acorrendo em seu auxílio sempre que os exauridos cofres da confraria não permitiam a continuação do trabalho.
Não deixa de ser revoltante que a inquisição tenha perseguido tal personagem.

02 fevereiro 2007

O GRITO

Lá, onde se encontrava, não sei se o nosso primeiro-ministro terá ouvido o grito da criança assustada, mas, a avaliar pela mortandade no galinheiro, deve ter sido um grito aterrador.
A história conta-se em duas penadas: na China profunda, um distribuidor de gás foi a uma quinta fazer uma entrega. O seu filho, uma criança ainda, acompanhava-o. O cão de guarda, não tendo visto ainda o petiz por aquelas bandas, desata a ladrar ao intruso, o que o terá assustado. A estridência dos gritos lançados pelo apavorado rapaz foi tal que no aviário as galinhas entraram em pânico, atirando-se, desorientadamente, contra as paredes. No final, a carnificina foi pavorosa. Ao que dizem, terão perecido, naquela confusão medonha, para cima de quatro centenas de galináceos. A notícia dizia mais qualquer coisa sobre a pena aplicada ao prevaricador, mas, nesta altura, já a minha imaginação voava para um outro galinheiro que há para os lados do Bairro Alto, onde em tempos os Beneditinos se recolhiam. Que falta fazia lá o chinezinho para atarantar a maioria das aves que por lá se acoitam…