Ninguém tem consciência de nada […] O mais incrível para mim é esta indiferença geral que está instalada. […] Quando confrontado com uma grande mudança, o público tende a ficar muito mais alarmado do que os peritos. […] Mas aqui é ao contrário. O público parece muito descontraído com a questão do aquecimento global, enquanto os peritos estão em pânico. […] Quando os cientistas do painel da ONU vieram a público e confirmaram que, nas próximas décadas, as tempestades vão ficar mais violentas, o deserto irá alastrar para mais de metade do planeta e o nível do mar vai subir uma dezena de metros ou mais, […] só faltou ver as pessoas bocejarem de tédio. […] E os políticos, que deviam ter juízo na cabeça, estão na mesma […] com aquela filosofia do deixa andar e o raciocínio de que os que vêm a seguir que desliguem a luz e paguem a conta.
José Rodrigues dos Santos, “O Sétimo Selo”
Depois da estafa que foi ler a
Fórmula de Deus, confesso fiquei sem grande vontade de me aventurar no Sétimo Selo. Condicionantes várias fizeram-mo, no entanto, chegar às mãos com algumas notas abonatórias.
Comecemos, então, pelo princípio. Pela capa, mais propriamente. Logo abaixo do título, em letrinhas pequeninas, como que envergonhadas, pode ler-se “Romance”. Mas, como diria um
figurão da nossa praça que por estes dias lançará a sua última obra, este não me parece um romance. Não sendo também um conto é, isso sim, um longo texto panfletário que, com dados irrefutáveis, anuncia o apocalipse. Umas alusões piegas à mãe do Tomás Noronha, o Gordiano Descobridor do José Rodrigues dos Santos, uma velhinha que só à força entrou no lar, literalmente, ao empurrão, algumas cenas escaldantes com a Russa no Transiberiano e, de romance, ficamos por aqui.
Não se deduza, no entanto, que este é um daqueles livros que devemos ter o mais afastado possível da estante lá de casa, não. Tal como
aqueloutro disco, também este livro devia ser lido por todos os garotos da escola. Talvez tomassem consciência do que aí virá e conseguissem explicar aos pais.