22 fevereiro 2012

O BASTONÁRIO DOS ADVOGADOS NO MOTEL

Há dias, enquanto ouvia o doutor Marinho Pinto, naquele seu modo sôfrego, a atropelar-se nos adjectivos, lembrei-me da anedota dos dois juízes: 
Um dia, dois juízes encontraram-se no parque de estacionamento de um motel e repararam que cada um estava com a mulher do outro.
Após alguns instantes de um silêncio constrangido, provocado pelo inusitado da situação, mas, sem nunca perderem a compostura própria de magistrados, em tom solene e respeitoso, diz um deles:
- Nobre colega, não obstante este fortuito imprevisível, sugiro que desconsideremos o ocorrido, crendo eu que o correcto seria que a minha mulher venha comigo, no meu carro, e a sua mulher volte com Vossa Excelência no seu.
Ao que o outro, de modo igualmente cortês, desfiando o rol de salamaleques próprio da sua condição, respondeu:
- Concordo plenamente, nobre colega, que isso seria o correcto, sim, no entanto, não seria justo, levando-se em consideração que vocês estão saindo e nós estamos entrando.
Um dia, estou em crer que maldosamente, alguém me dizia que o Doutor Marinho Pinto, em tempos, tentou enveredar pela carreira de juiz mas, circunstâncias várias concorreriam para que tal lhe não tivesse sido possível. Talvez que tudo isto, como lembraria um novel filósofo da nossa praça, não passe de pura maledicência mas confesso que ao ouvir o Doutor Marinho apelidar de betinhos e betinhas os membros do governo, acusando-os de burocratas que não conhecem o país, imaginei-o juiz, a sair de um motel.

14 fevereiro 2012

S. VALENTIM URBANO E ASSALARIADO.

[…] Abriu a porta de casa e entrou. Havia um cheiro estranho no vestíbulo. Um certo perfume. Almiscarado e doce. […] Estava a meio das escadas e consciente de que o perfume tinha algo de miasmático, quando foi obrigado a parar. Eva estava de pé, à porta do quarto, envergando um pijama de um amarelo incrível com umas calças muito largas. Estava horrorosa e, ainda por cima, fumava um cigarro comprido numa boquilha comprida e a boca estava pintada de vermelho brilhante.
- Meu querido caralhinho – murmurou ela em voz rouca, meneando-se. – Anda cá. Vou chupar-te os mamilos até que me faças vir oralmente.
Wilt virou as costas e fugiu, escadas abaixo […]

Tom Sharpe, “Wilt”