23 abril 2012

TODOS OS LIVROS


- Qual é o teu favorito?
- Não tenho um favorito. Não há livros separados de outros. Todos os livros que falam do mar, desde a Odisseia até ao último romance de Patrick O’Brian, estão interligados, como uma biblioteca.
- A biblioteca de Borges…
- Não sei. Nunca li nada desse Borges. Mas é verdade o que digo, que o mar se parece com uma biblioteca.
Arturo Pérez Reverte, “O cemitério dos barcos sem nome

11 abril 2012

AL-SAHAF E AS OBRAS DA PARQUE ESCOLAR

Mohammed Saeed Al-Sahaf, que a imprensa estrangeira apelidava de “Ali o comediante”, era o ministro da informação de Saddam Hussein ao tempo da segunda guerra do golfo. O cognome foi-lhe outorgado pelos jornalistas como reconhecimento das suas tiradas absurdas durante os briefings diários organizados pelo governo iraquiano para dar conta dos avanços da tropa doméstica. No dia 8 de Abril de 2003, como habitualmente, Al-Sahaf reuniu a imprensa estrangeira para comunicar que as valorosas tropas iraquianas, alumiadas pela destemida guarda republicana, continuavam a travar a mãe de todas as batalhas e rechaçavam as arremetidas dos cães raivosos invasores a quem seria infligida uma derrota que jamais seria esquecida. Ficaria para a história a patética imagem do ministro a jurar que estavam a desbaratar as tropas estrangeiras e a vencer a guerra no preciso momento em que, qualquer repórter que olhasse pela janela, veria já os tanques da coligação a poucos quarteirões de distância. Bagadad seria tomada pelo invasor poucas horas depois do briefing.
Lembrei-me do ministro da informação Al-Sahaf quando ontem, nos telejornais da noite, ouvi a antiga ministra Lurdes Rodrigues afirmar, perante a comissão parlamentar de Educação, que “o programa da Parque Escolar foi uma festa para as escolas, foi uma festa para os alunos, foi uma festa para a arquitetura, foi uma festa para a engenharia, foi uma festa para o emprego e foi uma festa para a economia”. Quando o Tribunal de Contas deteta despesas e pagamentos ilegais no montante de cerca de 256 milhões de euros e mais de 236 milhões euros relativos a 34 contratos da Parque Escolar não submetidos a visto, quando diz que houve um acréscimo de pelo menos 218,5% nos custos das obras realizadas, relativamente à estimativa inicial e que o dinheiro não chegou, por isso, nem para metade das escolas programadas, ouvir a ex-ministra com aquele ar alienado dizer que os relatórios do Tribunal de Contas teciam fartos elogios à gestão do programa, dá que pensar. O patético Al-Sahaf não faria melhor.

07 abril 2012

BOA PÁSCOA



Apesar da troika insensível e do Passos charlatão; apesar dos sábios da John Hopkins que querem acabar com o calendário e dos de Cambridge a jurar que a última ceia, afinal, foi a uma quarta, apesar de todas estas luminárias em conluio, conspirando contra mim, amanhã, o primeiro domingo após a primeira lua cheia depois do equinócio da primavera, mantendo-me fiel à tradição judaico cristã cá de casa, juntar-nos-emos à volta do cabrito.
Boa Páscoa.