28 julho 2010

POIS AGORA VOU-TE COMER!

O louva-a-deus é um insecto singular. Em repouso lembra alguém orando, daí o nome pelo qual é conhecido. A forma e as cores do seu corpo permitem-lhe uma camuflagem perfeita. Da sua dieta habitual fazem parte pequenos insectos, como moscas, abelhas e gafanhotos. Uma das particularidades da espécie tem a ver com a originalidade dos métodos adoptados na hora de trabalhar para a perpetuação da espécie. Na hora do acasalamento, ainda o macho não terminou a função, e já a fêmea se prepara para lhe arrancar e comer a cabeça. Não, pelos vistos não o faz como penalização pelo sofrível desempenho do parceiro, a razão é, digamos assim, bem menos prosaica, fá-lo como forma de se apropriar de uma importante reserva de nutrientes de que necessitará até à altura da postura dos ovos evitando, desse modo, ter de se expor aos seus predadores naturais ao procurar alimento. Está claro que com este acto a bicha, além de ficar de barriguinha cheia, evita também que o Romeu se dê p’ra outras Julietas. Lembrei-me do louva-a-deus quando no passado fim-de-semana li que o Rui Pedro Soares se mostrou disponível para ser dono do Sol. Rui Pedro Soares, para quem não se lembra, é aquele jovem ex-administrador da Portugal Telecom que quando foi chamado a depor numa comissão de inquérito no Parlamento parece que estava frente a um pelotão de fuzilamento e produziu o depoimento mais ridículo que aquelas paredes já ouviram: “… eu sou um fervoroso adepto de futebol… acho que como a maioria dos portugueses… fervoroso adepto de futebol… sou um fervoroso adepto de futebol e o meu clube é o futebol clube do porto…”. Na altura os jornais, com o Sol à cabeça, não lhe deram descanso e apesar de ter interposto uma providência cautelar para que o semanário não publicasse umas certas escutas telefónicas estas foram mesmo publicadas o que desagradou ao gestor que meteu o jornal em tribunal. A sentença acaba de ser publicada e atribui ao queixoso uma batelada de dinheiro em indemnizações. Ora o homem não está com meias medidas: "Se o Sol não conseguir pagar a dívida, estou disponível para me entender com os accionistas do semanário e ficar dono do jornal". Quando, no último fim-de-semana soube das intenções do ex-administrador não pude deixar de pensar na louva-a-deus: fodeste-me, pois agora vou-te comer!

12 julho 2010

DOUTOR, LEVO OU DEIXO OS PATOS?

Conta-se que Ruy Barbosa, o grande filólogo brasileiro, um dia, ao chegar a casa, ouviu um barulho suspeito vindo das traseiras da moradia. Pé ante pé vai investigar e dá de caras com um pilha galinhas que sorrateiramente se preparava para saltar o muro com os patos da sua criação bem acondicionados na serapilheira.
- Oh, bucéfalo anácrono! Não o interpelo pelo valor intrínseco dos bípedes palmípedes, mas sim pelo acto vil e sorrateiro de profanares o recôndito da minha habitação, levando meus ovíparos à sorrelfa e à socapa. Se fazes isso por necessidade, transijo; mas se é para zombares da minha elevada prosopopéia de cidadão digno e honrado, dar-te-ei com minha bengala fosfórica bem no alto da tua sinagoga, e o farei com tal ímpeto que te reduzirei à quinquagésima potência que o vulgo denomina nada.
E o ladrão, confuso, diz:
- Doutor, levo ou deixo os patos?
Lembro-me desta deliciosa história sempre que oiço o Francisco Assis, com aquela sua prosápia oleosa a perorar sobre qualquer coisa. O homem fala, fala, enrola, atropela-se nas palavras, volta ao início, redunda… para dizer nada. Cansa só de o ouvir… Mas enfim, são as provações a que sujeitam o povo.
Este fim-de-semana deu uma entrevista a um semanário e, pasme-se, o homem diz a quem o quer ouvir que tem todas as condições para ser líder do PS. Gostava de lhe dizer, Dr. Assis, que não tem condições não senhor. Depois de termos passado, não sei quantos anos, a ouvir um com aquela sua irritante vozinha de cana rachada e estilo mestre-escola não suportaríamos sequer a ideia de ter de ouvir, durante anos, essa sua bazófia untuosa a entrar-nos pela porta adentro. E depois uma pessoa que diz “não me excluindo a mim próprio, sem falsa modéstia” e remata a entrevista dizendo que “Eu procuro não ficar prisioneiro da ideia de ter um destino pessoal, porque isso me impediria de viver a vida no dia a dia” devia era concorrer às novas oportunidades.