31 dezembro 2010

costa norte


BOM ANO

Os conhecimentos empíricos, apurados por gerações de bebedores, já há muito que tinham concluído que o Champanhe é para beber frio. Agora a ciência vem validar o que o palato já tinha por adquirido. Uma equipa de académicos da Universidade de Reims concluiu que a temperatura ideal para se servir o Champanhe é de 4º C, pois, a esta temperatura, as moléculas de Dióxido de Carbono presentes na bebida têm mais dificuldade em desprender-se do líquido do que teriam se a temperatura fosse superior. Ora, sabendo-se que o CO2 ajuda a transferir o sabor, o aroma e a sensação da bebida para a boca do degustador, vemos quão importante é conseguir-se manter aprisionado no líquido a maior quantidade possível desse gás. Mas a equipa de cientistas não se ficou por aqui. No seu estudo, publicado no Journal of Agricultural and Food Chemistry, os académicos discorrem, ainda, sobre o modo ideal para se verter o líquido para a taça concluindo que esta deve estar ligeiramente inclinada para que a bebida escorra pela sua parede ao invés de a colocar na vertical e verter o líquido directamente no fundo. As razões prendem-se, também, com o CO2. Se a taça estiver na vertical a turbulência causada pelo líquido ao bater no fundo vai acelerar a libertação do Dióxido de Carbono mas se se inclinar ligeiramente deixando que o líquido escorra pela parede evitar-se-á parte desse problema e as perdas serão reduzidas a metade.
Logo, na hora de servir o Champanhe, lembre-se: incline a taça e encha-a. Beba uma pelo ano que acaba e outra pelo que começa. Eu acompanhá-lo-ei.
BOM ANO!

28 dezembro 2010

PALÁCIO DO POVO

Decididamente já nada nos consegue arrancar desta letargia que vai tomando conta da gente. Feitos tolos, acreditando em milagres, ainda acalentamos a esperança que os frente-a-frente dos candidatos à presidência trouxessem alguma animação às hostes mas logo desde o primeiro se viu ao que vinham e as esperanças ruíram logo ali. É que nem uma mísera ideia original se ouve da boca daquele pessoal e as únicas ideias estapafúrdias que até podiam dar para alegrar não o logram fazer porque sendo estapafúrdias não são originais. No frente-a-frente de ontem, que não tive pachorra para ver, a dado momento o candidato Nobre, aquele da parábola da galinha e do menino, puxa da manga aquilo que seria o seu trunfo: se for eleito abrirei o palácio de Belém ao povo! Cá está uma ideia nada original. Diria mesmo, uma ideia requentada. O grande estadista Hugo Chavez já há muito que a pôs em prática lá em casa. E mais, além de abrir as portas do palácio de Miraflores ao povo ainda chamou duas dúzias de famílias para lá viverem com ele. Ainda gostava de ver o presidente Nobre a fazer o mesmo. Já estou a imaginar quem iria ocupar a sala dos Embaixadores, ou a sala Dourada ou mesmo a sala Império… enfim, o presidente Nobre iria ficar aconchegadinho.

26 dezembro 2010

SE AO MENOS CANTASSE...

Ontem, ao assistir à habitual homilia de Natal do primeiro-ministro – assistir é uma força de expressão que eu não consigo ouvir mais do que as primeiras frases do homem sem me irritar –, lembrei-me dos ratos que cantam. A história, contava-a o JN de quarta-feira, relata o achado de uma equipa de investigadores da universidade de Osaka que, ao que parece inadvertidamente, criou uma série de ratos que, em vez de emitirem aquela chiadeira própria da sua condição, desataram a emitir sonoros chilreios de fazer corar de inveja as mais pintadas das aves canoras. E foi aqui que me lembrei dos ratos cantores: se os cientistas japoneses pudessem fazer alguma coisa à voz incomodativa daquele personagem. Não digo pô-lo a cantar mas, pelo menos, afinar-lhe as cordas vocais - e, já agora, o discurso - de modo a ser menos tormentoso ouvi-lo. E o tratamento podia ainda trazer-lhe outros benefícios: o estudo permitiu apurar que os roedores, além de ficarem com melhor voz, também modificaram algumas das suas características físicas como a cauda que ficou mais fina. Se pensarmos no apêndice nasal do homem fácil será ver os benefícios que daí podia tirar.

25 dezembro 2010

QUE CHOVA E QUE NEVE! É NATAL.




CHOVE. É DIA DE NATAL

Chove. É dia de Natal.
Lá para o Norte é melhor:
Há a neve que faz mal.
E o frio que ainda é pior.

E toda a gente é contente
Porque é dia de o ficar.
Chove no Natal presente.
Antes isso que nevar.

Pois apesar de ser esse
O Natal da convenção,
Quando o corpo me arrefece
Tenho o frio e Natal não.

Deixo sentir a quem quadra
E o Natal a quem o fez,
Pois se escrevo ainda outra quadra
Fico gelado dos pés.

FERNANDO PESSOA, 25/12/1930

18 outubro 2010

NECESSIDADES BÁSICAS

Por alturas da primeira guerra do golfo, quando os beligerantes se preparavam para a contenda, um jornalista decidiu entrevistar o comandante de uma determinada companhia britânica que tinha a fama, e ao que parece também o proveito, de fazer sempre o “trabalho” bem feito. A certa altura da entrevista o jornalista perguntou ao coronel qual era o segredo para que a sua companhia fosse sempre tão “eficaz” no cumprimento das missões. A resposta saiu cristalina: O segredo está no estômago. Os meus homens sabem que têm as suas necessidades básicas asseguradas e a necessidade primeira é a alimentação. Um soldado esfomeado jamais conseguirá cumprir convenientemente a sua missão.
Lembrei-me deste episódio quando, ontem, li as conclusões de um estudo sobre as carências alimentares dos nossos jovens onde se conclui que 12% dos alunos vão para a escola com o estômago vazio. O estudo apurou ainda que no ano passado essa percentagem tinha sido já de 8% e que no próximo será ainda bem mais grave. Este é já o principal factor do insucesso escolar.
Há vinte anos, por alturas da guerra do golfo, Sócrates não tinha tempo para estas minudências. Coisas bem menos prosaicas, como a escolha de uma boa escola de engenharia para fazer a sua formação, ocupar-lhe-iam o espírito, de modo que não terá ouvido o Coronel. Foi pena. Se o tivesse ouvido talvez tivesse pensado em alimentar os nossos jovens convenientemente antes de enxamear as escolas com computadores. Não sei quem lhe terá dito que se abarrotasse as escolas de computadores, internet e quadros interactivos os nossos alunos, como que por magia, ficavam mais inteligentes e, dentro de meia dúzia de anos, ninguém notaria a diferença entre Portugal e a Finlândia. Não sei quem lhe terá dito, mas sei que doze em cada cem computadores já estão parados. Os donos têm de lutar por prover as necessidades básicas e essas não são, com certeza, um computador.

16 outubro 2010

À TRIPA-FORRA

Ontem, a propósito da publicação dos rankings das escolas, ouvi duas declarações que, não fora a responsabilidade de quem as produziu, ter-me-ia rido a bandeiras despregadas.
A primeira foi feita pelo Director do colégio colocado em primeiro lugar, ou num dos primeiros lugares, do Ranking. Procurando uma declaração do Director que lhe ilustrasse a notícia, o jornalista começou por lembrar os ouvintes que se tratava de um colégio privado, logo não ao alcance da esmagadora maioria da população. “Não - refutou o director -, nós nunca rejeitamos ninguém, se tivermos vaga aceitamos todos os que nos procuram.” Depois de ouvir esta pérola não pude deixar de pensar que o dito colégio tem muita sorte em tê-lo como director, se o tivesse como aluno, com toda a certeza, não estaria tão bem classificado.
A segunda declaração do dia foi produzida pela Ministra da Educação quando lhe pediram, tão só, um comentário acerca da discrepância entre os resultados das escolas públicas e das escolas privadas. O depoimento foi o maior arrazoado que eu já ouvi sobre o tema: … hum, os resultados da escola pública decorrem do facto de ser uma escola aberta onde todos estão onde as crianças que têm mais dificuldade estão a ser apoiadas e as crianças que aprendem bem também estão portanto é uma escola onde não há selecção de alunos, todos são convidados a estar na escola e a aprender ao seu ritmo com o esforço para que todos aprendam bem o melhor possível mas sabendo nós que os seres humanos são diferentes e que as condições de apoio devem ter em consideração a diversidade dos seres humanos.” A senhora ministra, que até é escritora, sabe, com certeza, o elevado valor das palavras, para poderem ser usadas assim à tripa-forra. Reconheço, humildemente, que não conheço a sua obra - a Enid Blyton chegou primeiro e tive de me haver com ela - mas não duvido que gasta apenas as palavras que são necessárias. Então por que é que, de há uns tempos para cá, teima em dizer coisas que ninguém entende e outras que nos fazem rir? A senhora, até porque é ministra da educação, deveria ter usado um registo mais pedagógico e ter chamado à atenção do jornalista dizendo-lhe somente: “Esses dados não são comparáveis!” O senhor entenderia, poupava, e muito, nas palavras e informava de um modo que todos compreendiam. Assim…

19 agosto 2010

MANDASSE EU...


“… A linha é muito bonita e é uma pena se a fecharem agora. Oxalá a componham e que eu tenha saúde para ir lá outra vez ver passar os comboios.”
Camila Alves, 85 anos, Codeçais [in JN19AGO2010]


Mandasse eu, em vez daquele tonto com olhos de goraz, e a Linha do Tua ia já para obras: a Dona Camila, de Codeçais, havia de regalar os olhos, por muitos e bons anos, a ver passar os comboios.

28 julho 2010

POIS AGORA VOU-TE COMER!

O louva-a-deus é um insecto singular. Em repouso lembra alguém orando, daí o nome pelo qual é conhecido. A forma e as cores do seu corpo permitem-lhe uma camuflagem perfeita. Da sua dieta habitual fazem parte pequenos insectos, como moscas, abelhas e gafanhotos. Uma das particularidades da espécie tem a ver com a originalidade dos métodos adoptados na hora de trabalhar para a perpetuação da espécie. Na hora do acasalamento, ainda o macho não terminou a função, e já a fêmea se prepara para lhe arrancar e comer a cabeça. Não, pelos vistos não o faz como penalização pelo sofrível desempenho do parceiro, a razão é, digamos assim, bem menos prosaica, fá-lo como forma de se apropriar de uma importante reserva de nutrientes de que necessitará até à altura da postura dos ovos evitando, desse modo, ter de se expor aos seus predadores naturais ao procurar alimento. Está claro que com este acto a bicha, além de ficar de barriguinha cheia, evita também que o Romeu se dê p’ra outras Julietas. Lembrei-me do louva-a-deus quando no passado fim-de-semana li que o Rui Pedro Soares se mostrou disponível para ser dono do Sol. Rui Pedro Soares, para quem não se lembra, é aquele jovem ex-administrador da Portugal Telecom que quando foi chamado a depor numa comissão de inquérito no Parlamento parece que estava frente a um pelotão de fuzilamento e produziu o depoimento mais ridículo que aquelas paredes já ouviram: “… eu sou um fervoroso adepto de futebol… acho que como a maioria dos portugueses… fervoroso adepto de futebol… sou um fervoroso adepto de futebol e o meu clube é o futebol clube do porto…”. Na altura os jornais, com o Sol à cabeça, não lhe deram descanso e apesar de ter interposto uma providência cautelar para que o semanário não publicasse umas certas escutas telefónicas estas foram mesmo publicadas o que desagradou ao gestor que meteu o jornal em tribunal. A sentença acaba de ser publicada e atribui ao queixoso uma batelada de dinheiro em indemnizações. Ora o homem não está com meias medidas: "Se o Sol não conseguir pagar a dívida, estou disponível para me entender com os accionistas do semanário e ficar dono do jornal". Quando, no último fim-de-semana soube das intenções do ex-administrador não pude deixar de pensar na louva-a-deus: fodeste-me, pois agora vou-te comer!

12 julho 2010

DOUTOR, LEVO OU DEIXO OS PATOS?

Conta-se que Ruy Barbosa, o grande filólogo brasileiro, um dia, ao chegar a casa, ouviu um barulho suspeito vindo das traseiras da moradia. Pé ante pé vai investigar e dá de caras com um pilha galinhas que sorrateiramente se preparava para saltar o muro com os patos da sua criação bem acondicionados na serapilheira.
- Oh, bucéfalo anácrono! Não o interpelo pelo valor intrínseco dos bípedes palmípedes, mas sim pelo acto vil e sorrateiro de profanares o recôndito da minha habitação, levando meus ovíparos à sorrelfa e à socapa. Se fazes isso por necessidade, transijo; mas se é para zombares da minha elevada prosopopéia de cidadão digno e honrado, dar-te-ei com minha bengala fosfórica bem no alto da tua sinagoga, e o farei com tal ímpeto que te reduzirei à quinquagésima potência que o vulgo denomina nada.
E o ladrão, confuso, diz:
- Doutor, levo ou deixo os patos?
Lembro-me desta deliciosa história sempre que oiço o Francisco Assis, com aquela sua prosápia oleosa a perorar sobre qualquer coisa. O homem fala, fala, enrola, atropela-se nas palavras, volta ao início, redunda… para dizer nada. Cansa só de o ouvir… Mas enfim, são as provações a que sujeitam o povo.
Este fim-de-semana deu uma entrevista a um semanário e, pasme-se, o homem diz a quem o quer ouvir que tem todas as condições para ser líder do PS. Gostava de lhe dizer, Dr. Assis, que não tem condições não senhor. Depois de termos passado, não sei quantos anos, a ouvir um com aquela sua irritante vozinha de cana rachada e estilo mestre-escola não suportaríamos sequer a ideia de ter de ouvir, durante anos, essa sua bazófia untuosa a entrar-nos pela porta adentro. E depois uma pessoa que diz “não me excluindo a mim próprio, sem falsa modéstia” e remata a entrevista dizendo que “Eu procuro não ficar prisioneiro da ideia de ter um destino pessoal, porque isso me impediria de viver a vida no dia a dia” devia era concorrer às novas oportunidades.

15 maio 2010

MÃES DE TORRE DE DONA CHAMA

Vai para sete anos que Bragança chegou a capa da Time. Tal proeza, até aí, só o ditador Salazar e o perigo vermelho do PREC tinham logrado alcançar. Por essa altura, instalavam-se nos arrabaldes da cidade uma larga provisão de roliças moreninhas e as casas de perdição cresciam como cogumelos. No dizer avalizado d’As mães de Bragança, as meninas estavam a competir com elas pelos favores dos maridos: a competir e a ganhar, diga-se. Mas as despeitadas esposas não se deram por vencidas: foi tal o estardalhaço que fizeram que conseguiram chamar a atenção da insuspeita revista que dedicou ao assunto a capa e uma desenvolvida reportagem sobre o novo Bairro Vermelho da Europa. Sempre uns exagerados estes ianques. Depois de muita luta, as mães ganharam. As meninas tiveram de procurar o sustento noutras paragens e os maridos, vencidos, lá tiveram de voltar para o ambiente desenxabido do lar. Mundo injusto, este…
De há sete anos para cá que em Trás-os-Montes não acontecia nada. Nem o primeiro-ministro, rodeado de pinguins amarelos na lama do túnel do Marão a dizer as barbaridades do costume conseguiu prender as atenções. Há sete anos que não acontecia nada até que apareceu a professora Bruna de Torre de Dona Chama. E o que fez a setôra Bruna? Espalhou por oito páginas da Playboy o melhor que tinha para mostrar. E não há dúvidas: se as suas capacidades pedagógicas forem directamente proporcionais àquilo que lá se vê podemos ficar descansados: as novas gerações terão bons mestres. Quem não gostou do que viu foi a patroa da docente, no caso a vereadora Gentil Vaz da Câmara de Mirandela, que tudo fará, afirmou, para despedir a sua assalariada. E aqui tem o firme apoio do director da escola, José Pires Garcia, que, disse, mal teve conhecimento do assunto, contactou a autarquia por correio electrónico (nada como despir-se uma professora para o director da escola comunicar por correio electrónico). E o doutor Garcia não podia ter sido mais pires: instou a Câmara Municipal para que tome rapidamente uma atitude porque aparecer numa revista sem roupa não é compatível com a função de educadora, sendo nocivo para a comunidade escolar mantê-la no agrupamento.
Vê-se à légua que nem o director Pires nem a vereadora Gentil têm aptidões para desempenhar, com as mínimas garantias de sucesso, as funções que desempenham. Deviam saber que nas modernas técnicas de gestão é um crime não rentabilizar os activos nem aproveitar as sinergias da organização. Ora, com decisões destas, tanto um como outro estão a delapidar – as oito páginas da Playboy aí estão para o comprovar – aquilo que de melhor há pela escola de Torre de Dona Chama. Nunca por lá se tinha visto os pais das criancinhas tão interessados na vida escolar dos seus rebentos e vem agora o doutor Pires deitar tudo a perder. Com decisões destas o doutor Pires nunca chegará aos calcanhares do colega de Zalaegerszeg que se recusou a despedir um activo que, sabia, daria muito a a ganhar à sua escola.
Pouca sorte a da professora Bruna: tivesse nascido na Hungria e teria emprego assegurado na escola.. ou em em Itália e teria um lugar em Estrasburgo à sua espera.

02 maio 2010

25 abril 2010

ONDE FICOU ABRIL?



Não há ventos que não prestem
nem marés que não convenham,
nem forças que me molestem,
correntes que me detenham.

António Gedeão, Fala do homem nascido

08 março 2010

DIA DE TODAS AS MUHERES

Neste dia recordo quem me contava histórias e lembrava lendas a todo o momento. Recordo de quem aprendi papões, borralheiras e naus catrinetas e mil ladainhas e histórias de reis, fadas e dragões, coisas de encantar;
Neste dia recordo todas aquelas que me povoaram – e continuam a povoar até hoje – dias e noites de sonhos inconfessáveis;
Neste dia recordo todas aquelas de quinze anos, dezasseis, dezassete, cheirando a mato, à sopa dos pobres, a infância sem quarto, a suor, a chiclete, de quem usamos seu corpo e pagamos seu preço;
Neste dia recordo todas aquelas a quem a voracidade, a ignorância e o desprezo dos homens roubou a infância e recordo todas as outras para quem Março nunca chegou;
Neste dia recordo a Laurinda e todas as Laurindas do mundo que seguiram os seus sonhos e pagaram por isso.
Neste dia de Março recordo-as a todas e lembro-me, em especial, de ti. Tem um bom dia e que o calendário permaneça, para todo o sempre, em Março.

03 março 2010

ELOGIOS BANTAS

Confesso que nutro pelo ministro Luís Amado uma certa admiração. Essencialmente, por três razões. Em primeiro lugar porque gosto de ver a forma contida como usa as palavras. Tenho para mim que um ministro, ainda para mais se for dos Negócios Estrangeiros, deve usar da diplomacia, até no uso da palavra, que é, todos o sabemos, uma mercadoria valiosa, logo para ser usada com parcimónia. Nada como aqueles seus colegas palavrosos que acreditam piamente que uma mentira mil vezes repetida é uma verdade. A segunda razão é, digamos assim, mais do foro solidário: por mais tempo que passe não consigo esquecer aquele episódio caricato na entrada para uma cimeira durante a Presidência Portuguesa da União Europeia em 2007 quando ele e o primeiro-ministro avançavam, um para o outro, de mão estendida para se cumprimentarem. Quando as mãos se encontravam já a poucos centímetros uma da outra, Sócrates, olhando por cima do ombro do seu ministro e vendo um outro conviva mais apelativo, deixou o ministro Amado de mão espetada e de expressão aparvalhada e avançou para o convidado. Todos nós, que já estivemos nesta situação, sabemos como dói. O ministro Amado não merecia. A terceira razão, mas não a menos importante, tem a ver com as competências do ministro. Acho que tem desempenhado de uma forma competente e empenhada o lugar para o qual foi escolhido. E isso é o que se pede a um ministro.
Anteontem o ministro Amado que, mau grado uma evidente capacidade de privilegiar o essencial em desfavor do acessório, não está imune à onda de vitimização que grassa entre o governo da nação, disse que só ouve dizer mal de Portugal em Portugal, em contraste com os elogios ao país que ouve constantemente de dirigentes dos países que visita. Eu que nutro pelo ministro Amado uma certa admiração não me coíbo de lhe enviar daqui um puxão de orelhas. Quando fez estas declarações regressava de uma visita à Suazilândia mas a soberba não lhe permitiu descortinar que os elogios dos Suazis eram endereçados tão só a uns gajos que passaram por lá há mais de quinhentos anos, o Dias e o Gama.

PS: Depois se ter visitado a Suazilândia, o ministro nem desfez as malas e partiu para o Lesoto. Não ouvi relatos desta viagem mas consigo adivinhar que lhe disseram o mesmo. Espero que desta vez o bom ministro tenha descoberto que os bantas não se referiam ao Sócrates.

Ministro da triste figura, aqui

26 fevereiro 2010

DOUTOR AS PUTAS ESTÃO DO OUTRO LADO

Conta-se que um dia, um médico recém-formado, foi trabalhar para uma cidade de garimpeiros perdida nos confins da selva sul-americana. Quando lá chegou, reparou que na cidade só viviam homens. Uns dias depois, quando já tinha alguma familiaridade com os habitantes da cidade, perguntou a um dos seus pacientes o que é que os homens da cidade faziam quando necessitavam de sexo.
- Vamos ao rio – respondeu laconicamente o paciente –, e o doutor quando quiser, não se acanhe, avise-me que eu o levarei.
- Ah, não, obrigado, só perguntei por curiosidade – apressou-se a dizer o médico.
O garimpeiro, conhecedor das fraquezas da carne, ao despedir-se lá foi dizendo: - Doutor, quando precisar avise-me.
As semanas foram passando e o médico cada vez mais sentia a falta de uma mulher até que ganhou coragem e falou ao garimpeiro.
- Claro doutor. Amanhã passo por cá e levo-o.
No dia seguinte o pesquisador passou pelo consultório do médico e, juntos, saíram da cidade e subiram um morro. Quando chegaram ao cimo viram uma longa fila de homens que se estendia até ao rio lá em baixo onde aguardava uma burra. Então, falando em voz alta para que todos os da fila o ouvissem, disse:
- Camaradas, aqui o doutor tem prioridade.
Todos os homens, reverentemente, deram a vez ao médico e este lá foi caminhando até chegar junto do rio e da burra. Lá chegado, olhou para a burra e para a fila de homens e, um pouco constrangido, lá foi baixando as calças que se para os outros servia, para si também serviria.
Enquanto o pobre homem se desunhava na burra ouve-se uma voz no meio da fila:
- Oh doutor, veja lá se não cansa a burra porque a gente precisa da bicha para passar o rio que as putas estão do outro lado.
Lembrei-me desta deliciosa história quando hoje li que na semana passada, dois jovens moçambicanos foram apanhados por Mário Creva a manterem relações sexuais com uma cabra. «Um dos jovens estava nu e segurava a cabeça, enquanto que o outro fazia sexo com o animal», disse a testemunha relatando o “flagrante delito”. O dono meteu o caso em tribunal e exige que os violadores sejam obrigados a casar com a cabra além de terem de pagar os danos causados ao animal.
Os jovens, cuja identidade não é revelada pela notícia, serão presentes a tribunal ainda durante este mês. Se conhecessem a história exemplar do médico da cidade do garimpo, sempre a podiam contar ao doutor juiz. Na hora de decidir talvez o causídico a tomasse como atenuante.

21 fevereiro 2010

O SERMÃO DAS 3 VERDADES

Quando, na última Quinta-feira à hora do Benfica, vi o primeiro-ministro na televisão proferir o sermão das três verdades, confesso que, tendo-o visto, não o ouvi. Olhava e via o José Sócrates numa posição nada consentânea com a dignidade das funções que desempenha, na televisão também, mas a tentar explicar as incongruências do seu manhoso percurso académico e recordava as irregularidades mal explicadas do aterro da Cova da Beira e as casinhas da Guarda que ele diz serem dele e os donos desmentem e as monstruosidades que se cometeram em todo o processo de lançamento e aprovação do Freeport e voltei a ver o homem na televisão, com ar de celerado, vociferar que tudo não passava de uma campanha negra – Não me calarão!, dizia - e as indignidades do caso TVI e a rede de pessoas, a que outros chamaram polvo, que sem qualquer preparação, sem carácter e sem honra, apenas movidos por uma doentia ambição, se move ao redor de todos estes casos...
Lembrei-me de tudo isto e veio-me à memória o canto do poeta:

[...]
que eu voo por toda a parte mas noutro horizonte
e vivo as coisas simples e rio-me da ambição
e ao fim de tanto ver, escolherei um monte
de onde assistirei, sorrindo, ao vosso enfarte

[...]

11 fevereiro 2010

UMA HISTÓRIA DAS ARÁBIAS

Na minha aldeia, em tempos que já lá vão, costumávamos, em presença de certos e determinados espécimes do género feminino, proferir uma determinada máxima que rezava mais ou menos assim: “A mulher de bigode ninguém a…”, ah, já entendi, afinal não era só na minha aldeia que costumávamos dizer isto, vejo agora que todos nós, afinal, conhecíamos o aforismo. Hoje, por razões óbvias, por cá, este adágio caiu – vai caindo, melhor dizendo – no esquecimento. Ainda bem. É sinal que as mulheres estão mais bonitas e as Gillettes mais democratizadas.
Lembrei-me hoje das mulheres de bigode quando entrevi a aflição do árabe que após ter contraído matrimónio e ter obtido licença para levantar o véu, descobriu que a mulher, além de ser vesga, coisa de somenos, ainda tinha a cara coberta por espessa barba. Imagino o beduíno a levantar o niqab e a deparar-se com aquela paisagem medonha e, conhecendo ele o adágio português, antecipar um futuro difícil e de muita luta para concretização das suas obrigações matrimoniais.
O noivo, ao que dizem os despachos das agências de notícias, será um diplomata dos Emirados Árabes Unidos e a noiva, médica de formação, ter-lhe-á sido oferecida pela mãe que terá sonegado alguma informação que, viu-se depois, era de capital importância. O despeitado, depois do susto, não perdeu tempo: apelou para um tribunal islâmico do Dubai para que, não só lhe fosse concedido o divórcio mas também fosse ressarcido das chorudas quantias gastas em presentes para a futura esposa, acusando ainda a mãe desta de o ter enganado com fotografias da sua outra filha, por certo escanhoada e sem olhos tortos.
O tribunal, outra decisão não seria de esperar de um tribunal daquelas paragens, deu razão ao queixoso. Embora não lhe tenha restituído a pipa de dirhams que gastou a galantear a beldade, anulou-lhe o casamento. Se dúvidas ainda houvesse, cá está mais uma prova da injusta lei da sharia: o plenipotenciário, ao invés de lhe ser concedido o divórcio, deveria ter sido obrigado a conviver até ao fim dos seus dias com aquela face máscula, uma pena justa para todos aqueles que obrigam as mulheres a tapar-se da cabeça aos pés com aqueles espartilhos medievais.