31 julho 2007

FEIOS E PORCOS, PELO MENOS

Periodicamente, a Junta de Freguesia da Meadela, atenta às coisas da cultura, põe uns dinheiros de parte para a promoção de autores autóctones. Neste ano publicou três livros: um de poesia, um estudo sobre os cinquenta anos das festas da freguesia e um romance, todos eles de autores nados, ou, pelo menos, criados cá. O romance, Carolina, um louco sonho de infância, relata a história de um daqueles amores impossíveis com final feliz. Apesar de uma trama um tanto ou quanto naif, o romance reproduz de uma forma fiel e minuciosa a vida difícil nas aldeias do Alto Minho durante a segunda grande guerra e os anos que se lhe seguiram. A sua leitura, agradável, diga-se, em abono da verdade, teve o condão de me recordar muitos episódios que conheci de perto, na minha aldeia minhota em tempos de grandes privações. Não sei porquê, lembrei-me de um amigo de infância que, quando pela primeira vez foi à cidade e viu uma mulher de beleza ofuscante, ficou com a firme certeza que a dita não cagava. Podia lá ser. Aquele cabelo sedoso, aquela pele de marfim, aquelas mãos de porcelana, aquelas roupas que julgava impossíveis… Pode lá ser, cagar, cagamos nós que somos feios e porcos!
Algumas décadas depois descubro, com agrado, que continua a haver pessoas que mostram as mesmas dúvidas.

24 julho 2007

BOBO HOWARD

Hoje, à hora de almoço, quando as televisões mostraram o primeiro-ministro australiano John Howard, subindo “a quatro” a escadaria de uma estação de rádio, eu, que não sou aborígene, ri-me desbragadamente. Quando o vi naquela posição confrangedora, lembrei-me de todas as maldades que fizeram e continuam a fazer àquele povo.

23 julho 2007

TRABALHO É TRABALHO! CONHAQUE É CONHAQUE!

Há que puxar pela imaginação porque a notícia vinha extirpada de uma parte importante para a cabal compreensão do sucedido – o busto de Deborah.
A história conta-se em duas penadas. Numa obscura cidadezinha do interior da Alemanha, Deborah Moscone, assistente de vendas de 20 anos de idade, subiu para o autocarro e instalou-se num dos bancos da frente. Quando, passados instantes, o condutor procurou o espelho retrovisor o que lá encontrou foi uma imagem que faria as delícias de qualquer mortal cá das bordas do mediterrâneo, mas não as dele: o formoso busto de Deborah, alegremente decotado, enchia o espelho. O motorista parou o autocarro, dirigiu-se à atónita passageira e fez-lhe ver que a dita imagem do espelho o incomodava e que, com aquela atitude, estava a pôr em perigo a segurança dos restantes passageiros do autocarro. Desconheço se a despeitada passageira aconchegou o vestuário, saiu na próxima paragem ou mudou de lugar, a notícia não o dizia, mas apresentou queixa da situação. E se estava à espera que a companhia tivesse dado um puxão de orelhas ao assalariado, desengane-se, a decisão do condutor foi louvada pela entidade patronal, alegando que, em nenhuma circunstância, os motoristas podem ser distraídos durante o exercício da função.
Pois é, meus caros, lá para cima, a linha que separa o trabalho do conhaque é um muro intransponível mas mais cá para baixo essa linha é tão ténue, mas tão ténue, que, as mais das vezes conseguimos coexistir dos dois lados.
Viva o decote da Deborah!

08 julho 2007

DE QUALQUER MODO GOSTAMOS DE OUVI-LAS

Ontem foi um dia mau. Não bastando já ter de gramar com a ideia imbecil da eleição das novas sete maravilhas do mundo ainda tivemos de arcar com o resultado de um tonto estudo científico, com honras de publicação na Science – esta vetusta revista começa a aceitar de tudo –, levado a cabo por investigadores das Universidades do Texas e do Arizona, onde se concluiu que, afinal, as mulheres não falam mais do que os homens. Em cada dia que passa, os homens pronunciam 15669 palavras – assim mesmo, nem 15668 nem 15670, precisamente 15669 palavras – e as mulheres 16215. A ínfima diferença de 546 palavras é, dizem-no os investigadores, estatisticamente insignificante, pelo que acabamos de perder mais uma das nossas bandeiras. A partir de agora quando nos atrevermos a dizer, “ – Estás a falar demais!”, estamos sujeitos a que nos lembrem este famigerado estudo.
Antes desta pérola da moderna investigação, empiricamente, tinha-se chegado a valores que, penso, estariam mais próximos da verdade: 20000 palavras por dia para as mulheres e 7000 para os homens, mas os ianques, com a mania dos estudos científicos para tudo e mais alguma coisa, decidiram meter a colherada e foi o que se viu. Esperemos que noutra parte do mundo alguém venha repor a verdade.