25 abril 2009

ABRIL


Nestes dias de raiva em que um primeiro-ministro, quase de uma assentada, processa nove jornalistas porque não gosta do que escrevem;
Nestes dias de cólera em que um mangas-de-alpaca suspende um funcionário porque viu, na anedota que contou, matéria susceptível de melindrar o chefe;
Nestes dias de fúria em que vemos a polícia entrar por uma escola adentro para fazer perguntas “indiscretas” sobre a próxima manifestação;
Nestes dias de ira em que se exonera um director porque não mandou retirar um cartaz onde um seu subordinado tinha escrito uma frase proferida por um ministro e, pasme-se, considerada ofensiva para o mesmo;
Nestes dias de chumbo em que sinto estarmos, ordeiramente, entrando num gigantesco panopticon, trinta e cinco anos depois de Abril, lembrei-me, sabe-se lá porquê, do Chico Buarque:

Lá faz primavera, pá
Cá estou doente
Manda urgentemente
Algum cheirinho de alecrim

19 abril 2009

NÃO FOI NADA CONNOSCO

Quando, em meados de Novembro do ano passado, ficamos a saber que o ministro Teixeira dos Santos era, para o insuspeito Financial Times, o pior dos ministros das finanças da União Europeia, confesso que fiquei um pouco sentido com o periódico. Que diabo, estes arrogantes destes ingleses sempre a malhar nos mesmos. E, como não tendo ficado contentes com a boa-nova ainda tiveram a desfaçatez de contarem, com todos os pormenores – alguns bem sórdidos, diga-se –, os resultados parcelares do estudo. Assim ficamos a saber, ou melhor, assim todo o mundo ficou a saber, que o Doutor Santos se portou miseravelmente nos três critérios estudados: em dois deles foi o último e no terceiro o antepenúltimo.
Na altura, confesso, até tive um pouco de pena do homem mas ontem, quando ouvi a resposta que deu a um jornalista de um canal de televisão, rendi-me à evidência: pelo menos num dos critérios estudados o Financial Times tem toda a razão. Quando o jornalista lhe perguntou se se revia nas considerações que o Presidente da República fez a propósito de governar para os números e para as estatísticas o bom do homem, candidamente, respondeu que o senhor presidente da república não se estava a referir ao governo.

18 abril 2009

TARDE DEMAIS!


Agora é tarde senhor presidente. Devia ter falado quando todos lhe pedimos que falasse. Rogamo-lo uma e outra vez mas o senhor limitava-se a dizer, e repetir até à náusea, diga-se, que “este não é ainda o tempo do presidente se pronunciar” . Era sim, senhor presidente, aquele é que era o tempo! Pela certa não teríamos chegado aonde chegamos. Dizer agora, quando o caos está instalado, que não se pode governar para as estatísticas e outras patetices do mesmo jaez cria, na meia dúzia de tontos que ainda o ouve, dois sentimentos contraditórios. Metade dos tontos pensará: que pena não se ter lembrado de dizer isto antes e obrigar aqueles figurões a arrepiar caminho. Os restantes, irados, pensarão: melhor estivesse calado! Se isto chegou a este ponto ele tem nisso uma quota-parte importante da responsabilidade. É preciso não ter vergonha para vir agora dizer isto.
Pois é senhor presidente, o senhor foi conivente com a política que nos trouxe até aqui. Confiamos em si, levámo-lo para o palácio cor-de-rosa para que olhasse por nós, mas o senhor defraudou-nos. Deixou que uma equipa governativa, que, diga-se, tinha todas as condições para fazer um bom trabalho, trouxesse uma carga inimaginável de contestação a todos os quadrantes da sociedade portuguesa. Vou-lhe dar apenas dois exemplos de oportunidades perdidas pelo senhor:
Primeiro caso: quando após um ano de governação, e depois da equipa ministerial da educação ter feito o mais vil ataque a tudo o que de bom se ia produzindo nas escolas do país, a ministra vem dizer que, apenas num ano, os resultados escolares dos alunos tinham melhorado trinta por cento, o que disse o senhor a esse respeito? Nada! O senhor é professor, sabe que nenhum país do mundo consegue, no espaço de apenas um ano, melhorar em trinta por cento os resultados escolares dos seus alunos a menos que trapaceie as estatísticas. Devia, alto e bom som, ter ajudado a desmascarar esse embuste, mas, em vez disso, deixou-nos sozinhos a lutar pela verdade e, passado pouco tempo, veio publicamente tecer os mais rasgados elogios à equipa ministerial e ao trabalho que estavam desenvolvendo. Olhando hoje para o descalabro que se vive nas escolas do país sempre gostaria de saber se continua a comungar dessa peregrina opinião do bom trabalho;
Segundo caso: quando na assembleia da república com a habitual pompa o primeiro ministro dava conta dos primorosos resultados de um estudo da OCDE sobre a educação no país que se veio a saber ter sido feita com base em resultados de nove escolas – pasme-se, resultados de apenas nove escolas – e, ainda por cima escolhidas por quem encomendou o estudo que, afinal não foi feito pela OCDE mas sim por uma funcionária dessa organização que nas horas vagas faz uns trabalhos desse género, o que disse o senhor sobre esse caso que cobriu o país de vergonha? Nada!
Apenas dois casos dos inúmeros que foram envenenando a vida dos portugueses ao longo dos últimos quatro anos. O senhor tinha a obrigação de prever o desastre e repará-lo enquanto era tempo. Em vez disso, sabe-se lá porquê, deixou que se cometessem todos os atropelos que se foram cometendo ao longo destes quatro anos de modo que agora é já tarde demais e os tempos que aí vêm serão bem ásperos para muitos de nós.