18 outubro 2006

PEDRO CAMACHO

No seu último monólogo da hora de jantar – sua homilia dominical, como já alguém se lhe referiu –, Marcelo Rebelo de Sousa, reportando-se ao último tiro no pé dado pelo tontinho do ministro da Economia, disse que não foi por mal que o governante assim falou e que, de qualquer modo, nem era bem isso que ele queria dizer. Só soou assim porque o ministro em questão possui um vocabulário pobrezinho, fruto das suas parcas leituras quando era pequeno. O professor lá saberá do que fala.
Desconheço a maior ou menor frugalidade das suas primeiras leituras, de qualquer modo, atrever-me-ia a recomendar ao senhor ministro uma deliciosa leitura: nem mais nem menos do que “A Tia Júlia e o Escrevedor” de Mário Vargas Llosa. A obra, ao que me constou, tem muito de autobiográfico, mas o que gostava de chamar a atenção era para uma extraordinária personagem que dá pelo nome de Pedro Camacho. A acção desenrola-se nos anos 50, na época dourada da rádio e das radionovelas. Uma emissora de Lima, para a qual o Varguitas preparava os noticiários nos intervalos dos seus afazeres académicos de aluno na faculdade de Direito da Universidade de Lima, tentando combater a audiência de uma emissora concorrente, contratou a certa altura o novelista Boliviano Pedro Camacho. Este viria a revelar-se de uma extraordinária fecundidade, conseguindo escrever três ou quatro histórias em simultâneo, fazendo-o, praticamente, na hora em que iriam ser transmitidas. O êxito das radionovelas deste homem foi estrondoso. A certo ponto, porém, os ouvintes começaram a notar que as personagens de uma história começavam a aparecer noutra e algumas personagens eram cópias fiéis de pessoas reais.
Não desvendarei mais nada da história. Um eventual leitor poderia perder o interesse pela leitura integral da obra. Direi apenas ao nosso ministro da Economia que, em vez de confundir a realidade com a ficção, melhor fora que, qual Pedro Camacho, confundisse a ficção com a realidade.

2 comentários:

Anónimo disse...

Bom fim-de-semana, Carlos. O doce estava mesmo bom e que se lixe lá a barriga. Quando tiver a receita, aconselho-o a experimentar; vai ver que vale a pena. Abraço,
Ãrmanda

Tozé Franco disse...

Ora viva.
Gostei do comentário às frases do "nosso ministro".
Um abraço.