12 julho 2010

DOUTOR, LEVO OU DEIXO OS PATOS?

Conta-se que Ruy Barbosa, o grande filólogo brasileiro, um dia, ao chegar a casa, ouviu um barulho suspeito vindo das traseiras da moradia. Pé ante pé vai investigar e dá de caras com um pilha galinhas que sorrateiramente se preparava para saltar o muro com os patos da sua criação bem acondicionados na serapilheira.
- Oh, bucéfalo anácrono! Não o interpelo pelo valor intrínseco dos bípedes palmípedes, mas sim pelo acto vil e sorrateiro de profanares o recôndito da minha habitação, levando meus ovíparos à sorrelfa e à socapa. Se fazes isso por necessidade, transijo; mas se é para zombares da minha elevada prosopopéia de cidadão digno e honrado, dar-te-ei com minha bengala fosfórica bem no alto da tua sinagoga, e o farei com tal ímpeto que te reduzirei à quinquagésima potência que o vulgo denomina nada.
E o ladrão, confuso, diz:
- Doutor, levo ou deixo os patos?
Lembro-me desta deliciosa história sempre que oiço o Francisco Assis, com aquela sua prosápia oleosa a perorar sobre qualquer coisa. O homem fala, fala, enrola, atropela-se nas palavras, volta ao início, redunda… para dizer nada. Cansa só de o ouvir… Mas enfim, são as provações a que sujeitam o povo.
Este fim-de-semana deu uma entrevista a um semanário e, pasme-se, o homem diz a quem o quer ouvir que tem todas as condições para ser líder do PS. Gostava de lhe dizer, Dr. Assis, que não tem condições não senhor. Depois de termos passado, não sei quantos anos, a ouvir um com aquela sua irritante vozinha de cana rachada e estilo mestre-escola não suportaríamos sequer a ideia de ter de ouvir, durante anos, essa sua bazófia untuosa a entrar-nos pela porta adentro. E depois uma pessoa que diz “não me excluindo a mim próprio, sem falsa modéstia” e remata a entrevista dizendo que “Eu procuro não ficar prisioneiro da ideia de ter um destino pessoal, porque isso me impediria de viver a vida no dia a dia” devia era concorrer às novas oportunidades.

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