11 abril 2012

AL-SAHAF E AS OBRAS DA PARQUE ESCOLAR

Mohammed Saeed Al-Sahaf, que a imprensa estrangeira apelidava de “Ali o comediante”, era o ministro da informação de Saddam Hussein ao tempo da segunda guerra do golfo. O cognome foi-lhe outorgado pelos jornalistas como reconhecimento das suas tiradas absurdas durante os briefings diários organizados pelo governo iraquiano para dar conta dos avanços da tropa doméstica. No dia 8 de Abril de 2003, como habitualmente, Al-Sahaf reuniu a imprensa estrangeira para comunicar que as valorosas tropas iraquianas, alumiadas pela destemida guarda republicana, continuavam a travar a mãe de todas as batalhas e rechaçavam as arremetidas dos cães raivosos invasores a quem seria infligida uma derrota que jamais seria esquecida. Ficaria para a história a patética imagem do ministro a jurar que estavam a desbaratar as tropas estrangeiras e a vencer a guerra no preciso momento em que, qualquer repórter que olhasse pela janela, veria já os tanques da coligação a poucos quarteirões de distância. Bagadad seria tomada pelo invasor poucas horas depois do briefing.
Lembrei-me do ministro da informação Al-Sahaf quando ontem, nos telejornais da noite, ouvi a antiga ministra Lurdes Rodrigues afirmar, perante a comissão parlamentar de Educação, que “o programa da Parque Escolar foi uma festa para as escolas, foi uma festa para os alunos, foi uma festa para a arquitetura, foi uma festa para a engenharia, foi uma festa para o emprego e foi uma festa para a economia”. Quando o Tribunal de Contas deteta despesas e pagamentos ilegais no montante de cerca de 256 milhões de euros e mais de 236 milhões euros relativos a 34 contratos da Parque Escolar não submetidos a visto, quando diz que houve um acréscimo de pelo menos 218,5% nos custos das obras realizadas, relativamente à estimativa inicial e que o dinheiro não chegou, por isso, nem para metade das escolas programadas, ouvir a ex-ministra com aquele ar alienado dizer que os relatórios do Tribunal de Contas teciam fartos elogios à gestão do programa, dá que pensar. O patético Al-Sahaf não faria melhor.

3 comentários:

Helena Guerreiro disse...

Também ouvi a senhora e fiquei na dúvida: será demência e inimputabilidade ou descaramento e sarcasmo?

capitão disse...

Ela não mentiu totalmente.
De facto deve ter sido uma festança para muita gente!
Eu, com o dinheiro dos outros, também era capaz de dar festas de arromba!

ferrreira disse...

Ahahah!!! Lá estás tu a perseguir a Loulou... Então, festa é festa!!! Ainda hoje se sentem os benefícios dessa gestão para a economia! A má notícia é que continuam a não ser "premiados" os mentores de tão elevados feitos.