No passado Domingo foi dia de S. Martinho. Para assinalar a data, no serviço de notícias da hora de almoço, um dos canais de televisão mandou um repórter procurar um vendedor de castanhas assadas. Sempre seria mais castiço. Ilustrava-se a notícia com um fóssil e, com toda a certeza, os telespectadores gostariam. Parece que com alguma dificuldade – será mesmo um fóssil –, o repórter lá conseguiu encontrar um ali para os lados da Boavista. Gostei de ouvi-lo. Depois de tanta queixa – irrita-me sobremaneira esta moda nacional do queixume –, deleitei-me ouvindo uma pessoa que, tendo, talvez, razões de sobra para os lamentos, lá foi dizendo, convictamente, que a vida corria bem. Contente com o que faço e feliz com o que ganho porque não sei ler nem escrever. Não tenho exame nenhum senão podia ir para Doutor.
Desconheço em quê ou em quem estaria a pensar – ou se estaria a pensar algo – quando disse tal coisa mas por mim veio-me à memória um certo senhor de uma estirpe, senão fóssil, pelo menos à beira da extinção, que nunca tem dúvidas e raramente se engana.
Gostei de ouvi-lo. Falou por mim. Pelo sim, pelo não, quando for ao Porto tentarei passar pela Boavista. Procurarei o vendedor e, entre duas castanhas, falaremos daquela casta de homens que já se não encontram... com facilidade.
2 comentários:
Olá
Vim dizer-te que tens prémio para levantar na minha palhota.
Beijão grande
Mais uma bocado e sujeitava-se a ser "inginheiro".
Lembra-me um cozinheiro que eu conheci que, quando ia fazer aa época de Verão à praia, dizia à miúdas que ia conhecendo quando estava fora de serviço, que era engenheiro de máquinas a vapor.
Um abraço.
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