11 outubro 2008

UM PRÉMIO DE MERDA

A notícia, ainda que envergonhada, lá estava entre as novas que naquele dia pontificavam na secção local de um diário nacional. Ali para os lados de Paredes de Coura – em Castanheira, assim é que é –, tinha-se realizado um sorteio peculiar. O campo da bola lá da terra, com a mesma cal que Domingo sim, Domingo não, se fazem as marcações para o futebol, foi dividido aos quadradinhos, devidamente numerados. Depois do almoço, os castanheirenses tomam o caminho do campo. Lá chegados, quem quisesse experimentar a sua sorte, e tivesse posses para tal, escolhia o número da sua predilecção e “comprava” o quadradinho. Depois do campo “vendido”, passava-se, então, ao sorteio. E é aqui que está o caricato do processo. A organização solta uma vaca no campo da bola. O bicho lá vai “ruminando” a sua pouca sorte, alheio à populaça que ao redor do campo parece querer dizer-lhe algo e, quando acometido de uma maior pressão intestinal, pára e, literalmente, defeca sobre um número. A algazarra do povo atinge o clímax: o vencedor do primeiro prémio está encontrado. A vaca, essa, continua em campo: terá de cagar ainda o segundo e o terceiro prémios. Findo o jogo, na hora de pagar aos vencedores, o primeiro pode levar o dinheiro para casa, ou, se assim o preferir, a vaca.
Depois de ler a notícia dei por mim a pensar: se fosse a Paredes de Coura jogar o que poderia eu fazer para aumentar a minha probabilidade de ganhar? Todos os apostadores que se acotovelam ao redor do campo terão feito a mesma pergunta. Alguns terão até as suas mezinhas mas, modestamente, direi que nenhuma chegará à infalibilidade do meu processo. E não precisei de ruminar[1] muito. Quando o bicho estivesse com o rabo bem sobre o meu quadradindo, desenrolava um poster que levava bem enroladinho e mostrava-lhe uma certa figurona. À vista de tal personagem, ainda que o bicho fosse dos obstipados, haveria de lhe dar tal volta ao estômago que cagaria, pela certa, o prémio na minha casa.


[1] Esta é a minha pequena homenagem ao bicho que não tem culpa nenhuma da tontaria dos homens

4 comentários:

a d´almeida nunes disse...

Quer-me parecer que adivinharia quem seria a figurona do poster.
Mas ó Carlos Ponte, olhe que andam por aí muitos mais figurões! E em tempo de crise aberta, geral ou global, eles começam a mostrar o cu à paisana mesmo contra vontade.
Mas como não têm hipóteses de fugir porque andamos todos de olhos neles lá vão descobrindo as carecas. Hoje o Louçã já começou a despejar alguns nomes...mas quedou-se ao 3º!
Porque no hablas más, hombre!
Nós sabemos que estás metido nesses segredinhos, que não tos conseguem esconder todos!
Bem...acho que ainda vamos ter muito que conversar!
Um abraço.
António

Anónimo disse...

Oh Ponte, onde está o espanto?!Deve ser um procedimento habitual em muitos lugarejos deste país. Dizem as más-línguas que foi assim que um certo senhor ganhou um diploma de engenheiro!

Helena

Tozé Franco disse...

Ora viva.
Assisti na Liga dos Últimos a um sorteio desses (não me lembro se é ao que se refere).
Pois cá para mim a vca era capaz de fugir, pois há coisas que nem bicho com mais de um estômago aguenta.
Um abraço.

Citadino Kane disse...

Carlos,
Uma vaca cagando... sério?! Literalmente, um prêmio de merda!!! Ahahaha...
O António falou em "mostrar o cu à paisana", do que se trata, afinal?
abs