23 abril 2006

PANOPTICON VIRTUAL


“… os computadores […] forçavam a sua entrada em sistemas de dados protegidos. Quais fantasmas digitais, atravessavam paredes e surgiam em salas de armazenamento. O mundo exterior continuava a parecer igual, mas os fantasmas podiam ver as torres e as paredes ocultas do Panopticon virtual.”
in "O Viajante", John Twelve Hawks
Desde sempre o mundo tem sido um lugar perigoso para se viver... Pelo menos para alguns.
Talvez preocupado pela segurança, o jurista e pensador britânico Jeremy Bentham, concebeu, em finais do séc. XVIII, uma estrutura de forma circular, comportando vários andares, a que deu o nome de Panopticon e que funcionaria como uma prisão ideal. Na periferia do círculo situavam-se as celas totalmente abertas para o interior. No centro do anel existia uma torre de vigilância onde os guardas podiam ver os presos sem que estes os vissem. A cela não oferecia ao preso qualquer possibilidade de se esconder. Além do trabalho de vigilância poder ser desempenhado por um número diminuto de guardas, este sistema iria criar no preso a sensação que estava permanentemente sob vigilância, mesmo que isso não fosse verdade. Em última análise, seria o preso a controlar os seus actos.
Baseado no conceito de Panopticon, ainda que virtual, John Twelve Hawks, retrata em "O Viajante" um mundo onde, teoricamente, todos os cidadãos estão permanentemente vigiados, a menos que consigam viver fora da rede. É uma história perturbadora...
Talvez que esse mundo não esteja assim tão longe. Num julgamento mediático que actualmente se desenrola nos tribunais, os passos dos arguidos foram fielmente reconstituídos com a consulta de telemóveis, cartões de crédito, portagens de auto estrada, imagens de câmaras... como diria o viajante Gabriel “As pessoas querem acreditar que há uma ilha tropical ou uma gruta nas montanhas onde se podem esconder, mas hoje em dia isso já não é verdade. Quer gostemos, quer não, estamos todos ligados.”

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