18 abril 2009

TARDE DEMAIS!


Agora é tarde senhor presidente. Devia ter falado quando todos lhe pedimos que falasse. Rogamo-lo uma e outra vez mas o senhor limitava-se a dizer, e repetir até à náusea, diga-se, que “este não é ainda o tempo do presidente se pronunciar” . Era sim, senhor presidente, aquele é que era o tempo! Pela certa não teríamos chegado aonde chegamos. Dizer agora, quando o caos está instalado, que não se pode governar para as estatísticas e outras patetices do mesmo jaez cria, na meia dúzia de tontos que ainda o ouve, dois sentimentos contraditórios. Metade dos tontos pensará: que pena não se ter lembrado de dizer isto antes e obrigar aqueles figurões a arrepiar caminho. Os restantes, irados, pensarão: melhor estivesse calado! Se isto chegou a este ponto ele tem nisso uma quota-parte importante da responsabilidade. É preciso não ter vergonha para vir agora dizer isto.
Pois é senhor presidente, o senhor foi conivente com a política que nos trouxe até aqui. Confiamos em si, levámo-lo para o palácio cor-de-rosa para que olhasse por nós, mas o senhor defraudou-nos. Deixou que uma equipa governativa, que, diga-se, tinha todas as condições para fazer um bom trabalho, trouxesse uma carga inimaginável de contestação a todos os quadrantes da sociedade portuguesa. Vou-lhe dar apenas dois exemplos de oportunidades perdidas pelo senhor:
Primeiro caso: quando após um ano de governação, e depois da equipa ministerial da educação ter feito o mais vil ataque a tudo o que de bom se ia produzindo nas escolas do país, a ministra vem dizer que, apenas num ano, os resultados escolares dos alunos tinham melhorado trinta por cento, o que disse o senhor a esse respeito? Nada! O senhor é professor, sabe que nenhum país do mundo consegue, no espaço de apenas um ano, melhorar em trinta por cento os resultados escolares dos seus alunos a menos que trapaceie as estatísticas. Devia, alto e bom som, ter ajudado a desmascarar esse embuste, mas, em vez disso, deixou-nos sozinhos a lutar pela verdade e, passado pouco tempo, veio publicamente tecer os mais rasgados elogios à equipa ministerial e ao trabalho que estavam desenvolvendo. Olhando hoje para o descalabro que se vive nas escolas do país sempre gostaria de saber se continua a comungar dessa peregrina opinião do bom trabalho;
Segundo caso: quando na assembleia da república com a habitual pompa o primeiro ministro dava conta dos primorosos resultados de um estudo da OCDE sobre a educação no país que se veio a saber ter sido feita com base em resultados de nove escolas – pasme-se, resultados de apenas nove escolas – e, ainda por cima escolhidas por quem encomendou o estudo que, afinal não foi feito pela OCDE mas sim por uma funcionária dessa organização que nas horas vagas faz uns trabalhos desse género, o que disse o senhor sobre esse caso que cobriu o país de vergonha? Nada!
Apenas dois casos dos inúmeros que foram envenenando a vida dos portugueses ao longo dos últimos quatro anos. O senhor tinha a obrigação de prever o desastre e repará-lo enquanto era tempo. Em vez disso, sabe-se lá porquê, deixou que se cometessem todos os atropelos que se foram cometendo ao longo destes quatro anos de modo que agora é já tarde demais e os tempos que aí vêm serão bem ásperos para muitos de nós.

1 comentário:

a d´almeida nunes disse...

Caro carlos Ponte
Pode parecer uma colagem ao que aqui tão brilhantemente está dito, mas ando há dias para publicar um post deste género no meu blogue.
Concordo plenamente consigo.
Claro que um Presidente da República deve ser comedido nas suas observações em público. Mas tem meios ao seu alcance para ser muito mais actuante, que para isso é que vivemos num regime semi-presidencialista.
Ainda para cúmulo, a reacção de quem leva o puxão de orelhas, justo, é a de um menino mimado que amua e que diz que não quer saber de recados que o Chefe lhe dá.
Das duas uma, ou o Snr. Presidente não tem estaleca para o cargo ou o PM faz o que muito bem lhe apetece e ainda goza com os críticos.
Decididamente, esta maioria absoluta não parece ter sido nada útil ao País.
Não esquecendo, mesmo assim, que a crise global é de ser tomada em conta!
O problema é que não temos oposição com categoria e força para se impor. Que má sina a nossa!
Um abraço
António