26 setembro 2006

BROCANDO O NOSSO CÉREBRO

Há alguns anos, um solidário bebedor, Inglês ou Irlandês, já me não recordo, fez os seus amigos prometerem-lhe que, uma vez morto e incinerado, o punhado de cinzas que restassem iriam para uma pequena ânfora que seria colocada em local de destaque no seu pub de eleição. Ali, à vista dos amigos, ser-lhe-ia menos penosa a jornada para a eternidade. Embora não tenha vertido uma lágrima como o outro quando viu os tanques irromper por Bagdad, confesso que esta notícia me sensibilizou. Todos ganhariam com isso: o morto tinha companhia e os vivos podiam mandar vir outra rodada – erguiam o copo, viravam-se para a urna e exclamavam: - À nossa!
Desconheço se algum dos amigos ainda vive mas, ainda hoje, o morto lá continuará a contemplar os bebedores do alto do escaparate. Por vezes, um ou outro, lá lhe dirigirá a palavra. Serão, fatalmente, frases sem nexo mas que ajudam a passar o tempo.
Tudo isto vem a propósito de uma nova moda que acaba de chegar a Portugal. Alguém teve a ridícula ideia de, por meio de brutais aumentos de pressão e temperatura, num processo em tudo idêntico ao que se utiliza na natureza, transformar em diamante o carbono contido numa madeixa de cabelo de um finado. Deste modo, os entes queridos que cá ficassem, lembrar-se-iam dele. Se não de memória pelo menos pelo tacto.
O diamante, ao que me dizem com certificado e tudo, é idêntico àquele que protege a ponta de qualquer broca para furar pedra. Um material pouco consentâneo com a memória que se quer preservar, mas enfim… é a desmedida criatividade dos homens.

3 comentários:

Tozé Franco disse...

Há sempre alguém pronto para nos surpreender. Ele há cada uma...
Já estou a imaginar a Marylin a cantar "Diamonds are girls best friends" referindo-se a um finado que havia virado diamante.
Lá se vai a magia do momento...
Um abraço.

Anónimo disse...

Até que a ideia nem é má!
Já pensaste quantas viúvas irão rapidamente aderir à moda? É que se em vida, muitos dos “falecidos” não tinham qualquer serventia, ao menos na morte sempre poderão abrilhantar um anel ou outra peça de joalharia que as favoreça mais…
E até já estou a ver as menções no certificado: “ O marido da Sr.ª D. .... é uma jóia.”

Beijinhos

Helena Guerreiro

Anónimo disse...

Passei para apreciar esta página agradável, que me atrai pela sua qualidade e desejar bom fim-de-semana. Até breve.