02 outubro 2006

OS ÁRBITROS E O REI HIERON DE SIRACUSA

Ontem, ao ler a notícia dos presentes, em ouro falsificado, oferecidos aos árbitros, lembrei-me do Rei Hieron de Siracusa.
Conta-se – conta-nos Vitrúvio, arquitecto Romano do séc. I a.C. – que o Rei Hieron II, desejando obsequiar as divindades com um presente à altura da sua real dignidade, decidiu oferecer-lhes uma coroa em ouro maciço. Mandou procurar o melhor ourives do reino e entregou-lhe uma generosa quantidade desse metal.
No dia aprazado o ourives entregou ao soberano uma coroa ricamente cinzelada. Vá lá saber-se porquê, ao espírito do monarca começam a assomar algumas dúvidas acerca da fidelidade do trabalho do artista. A coroa tinha exactamente o peso do ouro que o rei lhe tinha entregue, mas quem lhe garantia que uma parte não foi substituída por outro metal? Por prata, por exemplo. Querendo uma resposta para a dúvida que o atormentava, Hieron confiou a Arquimedes a tarefa de resolver o enigma.
Vitrúvio, que nos conta a história, viveu dois séculos depois de Arquimedes. Talvez que durante todo esse tempo a história tivesse sido, digamos, boleada. Mas é uma bela história.
Estando no balneário público, enquanto ia imergindo no tanque, Arquimedes reparava que a água ia subindo. Na sua mente apareceu, então, a solução do problema do Rei Hieron: “Todo corpo mergulhado total ou parcialmente num líquido sofre um impulso vertical, de baixo para cima, igual ao peso do volume do líquido deslocado."
A sua alegria foi tal que, sem reparar sequer que estava completamente nu, saiu das termas e precipitou-se pelas ruas de Siracusa, exclamando: “- Eureka! Eureka!”.
A história diz-nos que Arquimedes descobriu que o ourives tinha substituído uma parte do ouro pelo mesmo peso em prata e, diz-se, por sua intercessão, o monarca não terá punido o trafulha. Ao fim e ao cabo, não fora ele e essa importante descoberta teria de esperar.
Os nossos corruptos árbitros nunca duvidaram da autenticidade das prendas que lhes ofereciam, e, mesmo que duvidassem, nem conheciam o Arquimedes nem a história do Rei Hieron, por isso é que, sabe-se agora, foram presenteados com prendas de ouro falsificado para comprar os seus favores.
Os nossos corruptos árbitros. Corruptos a simplórios.

5 comentários:

Tozé Franco disse...

A conclusão a que s chega é que até a corromper somos (salvo seja) vigaristas.
Portugal no seu melhor...

a d´almeida nunes disse...

...e simplórios, sim, talvez.
A verdade é que hoje vi no telejornal da uma, um ensaio para gravação dum CD, música pimba duma qualidade incrivelmente fraca, em que um árbitro se prestava a participar na sua edição cantando???!!! para ajudar a causa dos árbitros. Fiquei sem perceber patavina, mas nada preocupado por isso, que ando com a opinião acerca do futebol e dos seus protagonistas, muito por baixo.
Penso que o nome desse árbitro é Isidoro Rodrigues, acho que até já nem apita...
Pacóvios, alguns sim, mas as informações de bastidores que têm vindo a lume são tremendamente tistes e deslustradoras para um desporto/negócio que, mesmo assim, continua a arrastar multidões.
António

armanda disse...

Passei por cá, em visita dfe médico, para retribuir e agradecer a visita. Hei-de voltar com mais tempo. O dia da sobremesa, de que falei no meu blog, acontece à sexta-feira. Rotativamente, uma pessoa do grupo que almoça na cantina, faz uma sobremesa e traz a receita, partilhando-a com os restantes. É uma ideia, pelo menos, doce. E nós precisamos de coisas boas, para ver se ficam menos amargos os nossos dias. Portanto, está convidado para, não digo comer a sobremesa, mas, pelo menos, fazer a receita em casa. Para já, só sairam duas!

Citadino Kane disse...

Carlos,
Apenas estou observando... Rsrsrs...

Xico Rocha disse...

Valha-nos quem? esta índole humana é tão antiga quanto incurável.
Xico Rocha