30 novembro 2006

O DESCOBRIDOR







Pelos vistos desde pequeno que tem uma fixação:
lançar-se à descoberta.
Só nos resta desejar que os ventos estejam de feição.



Descobridor

Um pai gosta de se rever no filho,
não nos defeitos, mas naquilo que,
dentro de uma óptica de adulto, é
considerado qualidade ou virtude. É verdade
que os defeitos, quando em miniaturas,
podem ter graça. O mau génio
dum rapazito “promete”, não
raro, um forte carácter
macho para quando ele for um
homem, e isso tranquiliza
e tem graça. Mas é inegável
que as virtudes brilham e
lisonjeiam mais.


Quando o meu querido
fedelho me anunciou,
arvorando como podia a
solenidade de que os seus
dez anos eram capazes, que
queria ir para descobridor,
eu senti-me surpreso
e, logo, vaidoso. Até que enfim
que aparecia alguém, nas quatro
últimas gerações da família
Soares Picoto, que se propunha
descobrir, que forcejava
por se dedicar à descoberta de
algo
.
– Mas descobrir o quê?
perguntei ao Alvarito.
– Novas terras!, disse o pequeno.


Expliquei-lhe que a grandeza
dos portugueses como
navegadores e descobridores
era um facto incontroverso, mas que
hoje estava tudo descoberto.
O Alvarito ficou pensativo,
Depois, olhou para mim
e disse, meio desencantado:
- Então posso ser engenheiro…

Alexandre O’Neill

1 comentário:

Anónimo disse...

Caro Carlos; fiquei imensamente satisfeito ao visitar o teu blogue, pois o meu poeta Alexandre O`Neill é sinónimo de qualidade. Na semana em que faleceu Cesariny de Vasconcelos, convém lembrar que os dois foram do Grupo Surrealista de Lisboa. O’Neill era o poeta da ironia cáustica, como se vê no poema. Óptimo fim-de-semana para ti.