Miguel Torga, Diário III
18 março 2007
PAI, SEMPRE
"Cortei o cabelo a meu pai e fiz-lhe a barba. Foi sempre bonito o velhote, na sua esbelta e direita figura, na sua pele branca e fina de nórdico, nos seus olhos azuis, no seu loiro bigode de rapaz. Mas nunca teve coragem, nem tempo, para cuidar destes dons, embora goste que lhos gabem e cultivem. E de vez em quando é toda a família à volta do manjerico. Um aperta-lhe os botões da camisa, outro compõe-lhe o chapéu, outro tira-lhe a terra das orelhas. A mim tocam-me sempre a barba e o cabelo. E eu rapo o melhor que posso aqueles pêlos, com a solenidade que ele rapa as ervas de uma leira para lhe plantar um alfobre."
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
7 comentários:
Bonito texto, amigo.
Abraços desde Brasil,
Pedro
Que lindo gostei muito.
Tb adoro o meu pai , neste momento estou um pouquinho longe dele ...mas breve conto beijá-lo
Boa seman de trabalho
Beijão grande
Olá papá!
Estás sempre a dizer que eu nunca lei o teu blog, afinal não é bem assim!
Está muito bonito o texto. Tu é que já tinhas a barba feita senão também te a tinha aparado :)
Tenho pena que hoje não possa estar contigo mas espero que tenhas gostado da prenda!
Beijos**
Vivam todos os pais d mundo, ou pelo menos aqueles que o sabem ser...
Um abraço.
Obrigado, meu anjo, estás sempre comigo. Eu sei que que ma apararias, não tenho qualquer dúvida. Aliás, devo dizer-te, que tu és a prova evidente que por vezes a criação supera o criador.
Um grande beijo dum pai babado e até sexta.
Então que tal, caro Manuel Ponte?
Um piropo desses vindo da filha querida sabe sempre bem!
Ah Miguel Torga. Tanto que ainda tenho e quero ler, de Miguel Torga! Só depois da sua morte é que me dei realmente conta do quanto me identifico com a sua forma de tratar a Natureza e de escrever em geral.
Um grande abraço
António
Nossa que lindo, amei essa poesia...Bjim!!!!
Enviar um comentário