21 novembro 2008

LIÇÃO DE ZOOLOGIA

invertebrado, adj. (zool.) diz-se dos animais desprovidos de endosqueleto desenvolvido (com vértebras) e crânio propriamente dito, em oposição aos vertebrados ou craniotas.
Dicionário da Língua Portuguesa, 6.ª Edição, Porto Editora

Foram necessárias 120 000 vozes, gritando em uníssono, para que a ministra, finalmente, entendesse, embora que apenas um bocadinho, aquilo que todos os professores lhe vêm dizendo há meses: «Tenho de reconhecer que a forma como estávamos a concretizar a dimensão relativa aos resultados escolares não era confortável, nem razoável, mas excessiva, desajustada e com erros técnicos» disse. Entretanto perderam-se meses de trabalho, o ambiente nas escolas degradou-se, a paciência dos professores esgotou-se, as aprendizagens, fatalmente, ressentiram-se. E tudo porquê? Ora, porque é caprichosa e teima em ouvir sempre uns figurões que ainda a confundem mais. Um deles, aquele do “bamos promober um encôuntro” que sempre louvou as virtualidades do modelo, secundando incessantemente as palavras de tudo quanto era ministro ou secretário, hostilizando sempre os professores, vem agora dizer, depois do recuo, que agora é que sim “cremos que estom criadas as condições para no aprofundamento de uma escuta atiba e dum diálogo consequente seja possíbel lebar a cabo a abaliação do desempenho dos docentes num quadro de serenidade num quadro de serenidade e tranquilidade que as escolas precisam e portanto faz falta que todos nós atrabés da cominicaçom social possamos dizer que o ministério reconhece que deberia ter sido mais generoso em matéria daquilo que eram as questões que tinham sido lebantadas de dificuldades objectibas de aplicaçom do modelo o que foi feito hoje foi o lebantamento exaustivo dessas questões e foram imbentariadas soluções para todos os casos”.
É, convenhamos, uma nítida evolução do seu pensamento acerca do processo de avaliação do pessoal docente... pensamento, disse eu? Parece que não interiorizei bem a lição de hoje. De qualquer modo, honra lhe seja feita, nem um contorcionista conseguiria tal proeza… a coluna vertebral não o permitiria.

1 comentário:

Maresia disse...

Olá! Retribuo a visita e deixo-lhe uma crónica que escrevi para um jornal cá da região sobre este assunto...
Escrevo esta crónica um momento de pausa, na minha escola, naqueles momentos que todos vivemos em que olhamos para os que nos rodeiam como se tudo nos fosse estranho, como se fossemos meros espectadores acidentais dum filme qualquer que se desenrola perante os nossos olhos.
Cada qual na sua labuta, imerso nos seus problemas, cada qual reagindo à sua maneira aos obstáculos que a vida lhe vai colocando. Os centrados exclusivamente nos problemas, obcecados, azedos e estranhos ao que de bom os rodeia, os que passam despercebidos, quase sempre silenciosos e os que ainda brincam, consigo mesmos, com os outros, num exercício de descompressão. À volta o tema recorrente: a avaliação, os sindicatos, a Ministra, as manifs, as greves, os avanços, os recuos e um sentimento que a Ministra não identifica nem valoriza, mas que está a conduzir ao seu caminho de derrota, um sentimento de revolta, nem já pela avaliação, mas um sentimento de ultraje, que advém de cada um se sentir ferido na sua dignidade profissional.
Senhora Ministra, quando achincalha os professores, quando veicula a ideia que são apenas um bando de maus profissionais que por isso mesmo não quer ser avaliado, está a prejudicar a escola, sabe porquê? Porque somos seus parceiros e o garante do sucesso das suas medidas. Contra nós não vai longe e ao meter todos no mesmo saco perde… Perde os que nunca ganhou e perde os que estavam consigo. A sua equipa não são só os seus secretários de estado, são todos os professores deste país que têm suportado anos de reformas em cima de reformas, de programas inadequados, de constantes atropelos à missão de ensinar.
O segredo do sucesso duma equipa é a sua motivação e a sua coesão… Você esfrangalhou a sua, com a sua arrogância e desprezo pelos que, estando abaixo de si na hierarquia, são também peças fundamentais.