Aqui, sentado num banco da sexta fila da nave central da igreja do Convento de S. Domingos, vem-me à memória uma entrevista que em tempos li. A certa altura, o entrevistado, um director de orquestra americano, contou uma história cujos contornos guardo até hoje. Contava ele que no dia 22 de Novembro de 1963 iria dirigir uma orquestra num concerto importante. Até aqui nada de anormal. Mas eis que, passada meia hora do meio dia, começam a chegar notícias aterradoras de Dallas. À uma da tarde o horror confirmava-se: John Kennedy, o 35.º Presidente dos Estados Unidos da América, era assassinado com dois tiros, enquanto desfilava, em carro aberto, pelas ruas da cidade. Recordo-me que o director dizia que a decisão natural, conhecida que era a tragédia, teria sido cancelar o concerto mas ele recusou-se a fazê-lo. Naquela altura a única coisa capaz de aplacar a tristeza que sentia era ir para a frente da orquestra. Foi o que fez. Não me recordo já se o programa contemplava qualquer obra de Bach mas do que me recordo é do maestro dizer que, naquela altura, só a música do compositor alemão lhe poderia apaziguar a mágoa que sentia, sem que isso beliscasse a memória de um homem que muito admirava.
O meu Benfica acaba de perder com o Barcelona e eu, aqui sentado num banco da sexta fila da nave central da igreja do Convento de S. Domingos, recordo-me, não sei bem porquê, desta entrevista que li há já muitos anos. No altar-mor a orquestra dá os primeiros acordes. As cerca de cinco dezenas de vozes do coro começam a entoar as primeiras palavras: "Requiem aeternam dona eis domine...".
Nesta tormentosa noite de Primavera, o Requiem de Mozart será a minha paixão segundo S. Mateus.
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