28 dezembro 2006

NÃO PRECISA BEBER CHAMPANHE...


RECEITA DE ANO NOVO

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens? passa telegramas?)


Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.


Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

Carlos Drummond de Andrade

6 comentários:

Tozé Franco disse...

Obrigado pela partilha deste poema.
Bom ano de 2007.
Um abraço para Viana do Castelo.

Anónimo disse...

No Minho temos um ditado popular que diz que «maior é o ano que o mês», por isso desejo a maior felicidade para o ano 2007.

Teresa David disse...

Que bela receita cheia de bom senso e ternura. Vou passá-la para o meu livro de receitas de vida!
Um bom ano para si, e eu que cheguei há 2 dias de Amesterdão, já comecei a relatar e publicar imagens dessa cidade que adoro.
Bjs
TD

armanda disse...

Feliz 2007, Carlos!
Boa escolha, a deste poema!

Anónimo disse...

Lindo Poema, está para o meu estado de espírito, como o Sol está para o dia.
Obrigada pela partilha.
Um 2007 cheio de praias e arvoredos, rosas vermelhas e pombas brancas.

Anónimo disse...

Desculpa a extemporaneidade do meu comentário, mas só hoje passei por aqui.
A receita é perfeita! Seria bom que todos orientássemos o nosso projecto de vida pelas palavras do poeta.