18 novembro 2008

SÓ PARA OS AMIGOS

Senhor primeiro-ministro, eu sei que o senhor é visita assídua deste blog e, perdoe-me a imodéstia, sei, até, que o tem em boa conta. Como sei tudo isso vou esclarecê-lo sobre um assunto porque, por mais do que uma vez, já o vi meter os pés pelas mãos. É sobre a avaliação dos professores. Ainda um dia destes, em Ponte de Lima, enquando distribuía autógrafos pelos alvoroçados alunos – é campeão! dizia o senhor com a mesma convicção com que eu diria que este ano, finalmente, os políticos vão deixar de mentir ao povo – e prantava uma série de Magalhães – duzentos e sessenta ao que me dizem - na frente das criancinhas que os receberam com “um brilhozinho nos olhos” como reconheceu junto do seu staff, que recolheria, depois das fotografias da praxe, para continuar o seu reclame noutra escola, dizia aos jornalistas, com aquele seu ar de homem providencial: “Eu não quero que os professores passem mais trinta anos sem serem avaliados!” Cometeu, como vem cometendo desde há tempos, um erro grosseiro. Na realidade, aquilo que o senhor vem dizendo, é uma grande mentira. Compreendo que uma pessoa não pode saber tudo. Nem mesmo sendo o primeiro-ministro. Sei também que não arranjou uma grande equipa para o elucidar. Começando pela doutora Maria de Lurdes, sempre a humedecer aqueles lábios finos antes de cada frase. Deve ser intragável – refiro-me, claro está, às suas qualidades de conversadora –, sempre a martelar as suas ideias sem dar qualquer oportunidade ao interlocutor. E eu sei que, tal como eu, também o senhor primeiro-ministro gosta de uma boa cavaqueira. E cavaqueira pressupõe diálogo! Tenho quase a certeza que também o senhor não apreciará nada a sua companhia. Podia perguntar àquele senhor da carapinha que fala sempre com aquela falta de voz como se tivesse passado metade da noite a puxar pela equipa. Mas, para lhe ser franco, parece que também por aí não ganharia grande coisa. A sensação que dá ao ouvi-lo é que diz sempre a mesma coisa, independentemente dos assuntos, e isso pode tornar-se perigoso. É que, normalmente, não acerta. Temos depois o senhor da careca, aquele que quando é apanhado em falso, e é-o muitas vezes, fica com a moleirinha brilhante de suor e desata a dizer que a culpa é dos adversários e dos manobradores. Também parece faltar-lhe aquele distanciamento essencial a uma pessoa sensata. Sobra aquele senhor que costuma dizer: “bamos promober um encôuntro” e que tenho visto, juntamente com vossa excelência, a distribuir Magalhães e a lambuzar as criancinhas com beijos mas, também por aí, basta o dito senhor abrir a boca para ficarmos a saber o que dele se pode esperar. De modo que, tirando a ministra, subtraindo o da carapinha, deduzindo o da careca e descontando o do encôuntro, quem resta?
Então vamos lá: para dar cumprimento ao art. 42.º do ECD o docente terá de, até sessenta dias antes do prazo legal para mudança de escalão apresentar um relatório que incida sobre toda a actividade desenvolvida, individualmente ou em grupo, no plano da educação e do ensino e da prestação de outros serviços à comunidade, durante o período de tempo a que diz respeito.
De acordo com o estipulado no art. 6.º do Dec. Reg. n.º 14/92 e salvaguardando outra informação que o docente ache por bem fornecer, o relatório deverá, obrigatoriamente, considerar os seguintes itens: a) Serviço distribuído b) Relação pedagógica com os alunos c) Cumprimento de programas curriculares d) Desempenho de cargos directivos e pedagógicos e) Participação em projectos e actividades desenvolvidas no âmbito da comunidade educativa f) Acções de formação frequentadas e unidades de crédito obtidas nas mesmas g) Contributos inovadores no processo de ensino/aprendizagem h) Estudos realizados e trabalhos publicados i) Níveis de assiduidade j) Eventuais sanções disciplinares k) Possíveis louvores e distinções.
No fim o relatório é analisado por uma comissão de avaliação que propõe uma nota final que tanto pode ser negativa como positiva. Está a ver senhor primeiro-ministro, e não me venha com figuras de retórica, se a apreciação pressupõe uma nota quer dizer que houve uma avaliação. Pena é que em vez de se melhorar aquela que se já conhecia se tenha ido copiar a primeira que apareceu. [A propósito: ouvi a senhora ministra da educação há dias dizer que trabalharam “naquilo” durante dois anos. Será verdade senhor primeiro-ministro? É que estou em crer que, mesmo com o meu castelhano hesitante, não demoraria mais do que quinze dias a traduzir aquela trapalhada toda].
Bom, será o tempo do senhor cá vir e tenho a certeza que mais uns dias e passará a falar claro sobre a avaliação dos professores. Passe muito bem e, se lhe for possível, mande a ministra p’rá terra.

1 comentário:

Anónimo disse...

A tua insinuação de que a tradução do modelo de avaliação chileno poderia ter sido feita em menos tempo é uma verdadeira aleivosia. Relembra que, em simultâneo, esta equipa produziu centenas de normativos, revogou outros tantos, desdobrou-se em reuniões e declarações com os alinhados, com os desalinhados, com os indecisos, com os desinformados e com os media, num empreendimento esquizofrénico de intoxicar a opinião pública, infernizar a vida dos professores e assegurar que os dinheiros públicos ficassem resguardados desse luxo que alguns países desenvolvidos se lembraram de criar: a educação para todos!
Não Ponte, se pensares bem, tudo isto foi feito em muito pouco tempo! A escola pública, tal como a conhecíamos, está a ser desbaratada a uma rapidez que eu, há três anos atrás, julgava impossível!
Helena Guerreiro