19 julho 2006

MUSEU DE CINEMA DE MELGAÇO

Com uma periodicidade ditada pelos afazeres profissionais e domésticos do grupo, eu, juntamente com a Ana, a Andrea, o Bento, a Helena e o Luís, tiramos um dia, ou, pelo menos, parte dele, para nos reunirmos. Invariavelmente as nossas reuniões são compostas por duas partes.
- A primeira, mais teórica, digamos, é passada à roda de uma mesa que o Bento ou o Luís – os maiores experts em gastronomia que conheço, embora a Ana esteja, já, no bom caminho – escolhem. A agenda é aberta de modo que cabem lá todos os temas – se bem que uns mais confessáveis que outros: livros, viagens, discos, férias, filmes, trabalho, colegas, família, alguma política, muita má-língua, pouco futebol, algum fado, Fátima q.b.…
- A segunda, mais social, tanto pode ser uma visita à Igreja do Marco de Canaveses como um passeio pelas íngremes bancadas do incomparável estádio do Braga.
Ontem reunimo-nos na Vila de Melgaço. A primeira parte foi na Adega do Sossego, uma acolhedora casinha onde fomos simpaticamente recebidos e principescamente servidos. Depois de termos passado em revista todos os habituais temas fomos cumprir a segunda parte da nossa reunião: uma visita ao Museu de Cinema de Melgaço.
Jean-Loup Passek é, desde o início dos anos setenta do século passado, o responsável pelo Festival International du Filme de la Rochelle e conselheiro de Cinema do Centro Georges Pompidou. Um dia, já lá vão cerca de trinta anos, o cineasta realizou um documentário sobre a presença dos imigrantes portugueses em França. Na altura travou conhecimento com um casal de trabalhadores Lusos que por lá labutavam. Daí a ter sido por eles convidado para passar férias em Portugal foi um passo. Passek aceitou o convite e eis que rumam a Portugal à terra dos imigrantes – Melgaço. O cineasta ficou encantado. Comprou casa por cá e não mais se desligou da Vila. Um destes dias, a propósito do cinquentenário da Fundação Calouste Gulbenkian, António Barreto dizia que nunca conheceremos todas as razões que levaram a que um dos homens mais ricos do mundo doasse a sua colossal fortuna a Portugal. Talvez Jean-Loup Passek tenha sentido o mesmo que o velho capitalista sentiu ao cá chegar: a simpatia das pessoas, a beleza da terra, a paz que lhe faltava no seu país… O certo é que o cineasta decidiu doar à pequena vila de Melgaço um dos maiores espólios de artefactos cinematográficos que uma pessoa conseguiu reunir, espólio esse que era disputado por grande parte dos países da Europa.
Com a ajuda da Câmara Municipal de Melgaço, conseguiu arranjar-se um espaço que, apesar de nobre, é já, ao que me dizem, exíguo para expor todos os tesouros deste homem. O museu está instalado numa casinha de dois pisos, literalmente, colada à parede protectora da muralha da vila. O edifício, que já foi Posto da Guarda-fiscal de Melgaço, foi minuciosamente reparado e preparado para o efeito.
Lá estão todas aquelas maquinetas imaginadas e laboriosamente construídas pelos gloriosos malucos das máquinas de sonhos que a partir dos finais do séc. XIX começaram a trilhar o árduo caminho que levaria àquilo a que hoje chamamos cinema.
Se passar por perto aconselho-o vivamente a visitar a este acolhedor museu.
A nossa próxima reunião será para os lados de Trás-os-Montes. A mesa, parte importantíssima, estará já escolhida pelos nossos experts. A parte lúdica será uma peregrinação a uma ou outra fraga que em tempos acolheu Miguel Torga nas suas caçadas pela região.
Passando em revista todas as reuniões que já fizemos e a amizade que se foi alicerçando entre nós não posso deixar de me lembrar do poeta de S. Martinho da Anta quando diz que viver é sobretudo amar e ser amado.
Confesso que tenho vivido!

2 comentários:

Anónimo disse...

Aqui estou eu a comentar o teu último post !!! Eu sei que é uma ousadia, como já te tenho dito várias vezes, porque a minha capacidade de dissertar sobre as coisas é elementar. Porém, aproveito o mote para expressar o meu reconhecimento ao “grupo de trabalho” que, com grande competência e perícia tem planeado e concretizado o reuniões (evidentemente, muito à custa da mestria gastronómica dos nossos experts e do teu sentido de oportunidade de juntar os prazeres da mesa aos do espírito). Espero, como alguém dizia no nosso último encontro, “… que isto seja p’ró resto da vida…”.
Até breve…

Citadino Kane disse...

Carlos,
Adorei esse post, fiz um exercício de transportar-me em pensamento para Melgaço... uma indescritível sensação benfazeja invadiu todo o meu ser... Provei do vinho e belisquei todos os petiscos, os lábios lambuzados da alegria de compartilhar o belo da vida - a amizade. Parabéns pelos amigos e um forte abraço além-mar.
Pedro