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E eu que não sou Deus!
E eu árido de respostas!
E eu vazio de verdades!
E eu que apenas sou África
nos entretantos das minhas
Comodidades!
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José Luís Carvalhido da Ponte, ora di djunta mon tchiga.
Extracto do poema “é quase noite”
José Luís Carvalhido da Ponte é professor por vocação e poeta por devoção. Ontem assisti ao lançamento da sua mais recente obra: ora di djunta mon tchiga. O título, em crioulo, significa, em língua de branco, é a hora de darmos as mãos.
José Luís, 57 anos de idade – completá-los-á dentro de 19 dias, a 17 de Agosto – cumpriu, no início dos anos 70 do século passado, o serviço militar na então colónia portuguesa da Guiné. Ter-lhe-á ficado algo daquela terra – agarrado não sei se ao corpo se à alma – porque trinta anos depois de lá ter aportado pela primeira vez, regressou. Embora o objectivo tivesse sido trabalhar na formação de professores de Português na Guiné-Bissau, o apelo da terra amada terá sido bem forte. Desde essa altura tem regressado todos os anos.
Ele não o disse mas pareceu-me adivinhar nas suas palavras que a cada novo regresso o seu amor por aquela terra, onde apenas não falta o sorriso, a alegria e a amizade, cresce mais e mais – se desaparecessem as árvores, as plantas, os animais e o Sol, a Guiné não teria mais nada, diria. Fazendo a comparação entre a terra que deixou no regresso da guerra colonial e o país que encontrou no dealbar deste século não se coibiu de afirmar: “- O que vou dizer não será politicamente correcto mas sinto que, mesmo assim, devo dizê-lo: agora é que a Guiné está a ser explorada!” Ainda bem que temos poetas que não se encolhem perante o politicamente correcto! É que dizem as coisas muito melhor que nós dizemos.
Talvez pensando em todas as Djamilas e Marys daquele país Africano, o poeta quer construir uma pequena maternidade no Cacheu. Para ajudar decidiu oferecer a totalidade dos lucros obtidos com a venda deste livro de 36 belos poemas e cerca de duas dúzias de belas fotografias. Embora a sua modéstia o mandasse dizer o contrário, os poemas, as fotografias e a nobreza da ideia que está por detrás deste trabalho, valem bem os 15 euros que se paga por ele. Assim a edição esgote rapidamente.
Ora di djunta mon tchiga.
1 comentário:
Carlos,
Concordo com o poeta: "É hora de darmos as mãos".
Não apenas Guiné, mas o mundo precisa urgentemente uma nova solidariedade...
Salvar o futuro é obra para homens de carne e osso, não para santos...
"É hora de darmos as mãos..."
Um abraço,
Pedro
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