20 dezembro 2008

SÓCRATES E AS "MAÇÃS DA TERRA"

Nos últimos trinta anos a educação tem sido entregue, ora a românticos, ora a fracos. Quando se pensava que a pasta tinha encontrado, finalmente, o dono certo, eis que entra em cena uma equipa de aventureiros que, de educação, parece não entenderem muito mais do que aquilo que lhes ficou de umas leituras apressadas. E desastre após desastre, três anos depois, a parte do edifício que ainda continuava de pé, acaba de ruir.
A propósito desta calamidade vem-me à memória uma história que Steve Berry contava n’A Profecia dos Romanov. Pedro o Grande, czar de todas as Rússias, querendo alimentar o seu povo decretou que os camponeses da Geórgia passassem a cultivar batatas. “Maçãs da terra”, como lhes chamava. O tubérculo, recentemente introduzido na Europa, era, ainda, desconhecido na Rússia e o soberano esqueceu-se de dizer aos cultivadores qual a parte da planta que devia ser aproveitada. Quando, depois da colheita, os camponeses tentaram comer a rama, adoeceram. Encolerizados, queimaram toda a sementeira. Foi só quando um provou a raiz queimada da planta que se descobriu onde estava, afinal, o alimento.
Não duvido que José Sócrates quisesse o melhor para a educação do seu país. Não duvido, sequer, da bondade da sua escolha mas, tal como Pedro, quatro séculos antes, também ele se esqueceu de avisar a equipa que escolheu, que, uma boa parte dos professores, quiçá a melhor, embora “escondida” era imprescindível se se quisesse uma boa colheita. Não avisada, nada sensata e pouco perspicaz, a equipa tomou todos os professores por foras-da-lei e toca a mover-lhes uma guerra sem quartel. Covardemente, aliciou os pais e o país contra o inimigo, mas, quando a batalha parecia ganha, eis que começam a surgir brechas nas forças de assalto. Quando percebem as ideias diabólicas dos generais, o melhor das forças, muda-se para o outro lado da barricada. O resto já se sabe.
Desgraçadamente, perdeu-se outra oportunidade de reformar o ensino público e teremos de trabalhar muito para reconstruir tudo o que uma equipa de celerados teimou em destruir.

Este texto, publicado inicialmente em 29 de Novembro p.p., foi premiado no sorumbático como comentário ao texto de António Barreto, Políticas Educativas.

2 comentários:

Anónimo disse...

Venho apreciar este magnífico blogue e desejar um santo e Bom Natal e um Próspero Ano Novo, tudo cheio das maiores felicidades, repleto de esfusiante alegria, com tudo de bom, com muito bacalhau e rabanadas minhotas.

Goretti disse...

Adorei este texto quando o li.

Viana do Castelo? Por acaso amigo ou conhecido de um certo Paulo, professor de Biologia? Seria um acaso interessante...