26 agosto 2006

O CÃO DO JOÃO MALHEIRO

De vez em quando a comunidade científica tem a delicadeza de nos assombrar com as mais inverosímeis descobertas.
Alertado por Lloyd Green, um agricultor do condado de Somerset, no sudoeste de Inglaterra, que jurava a pés juntos que o linguajar das sua amadas vaquinhas tinha o sotaque da região “ – Eu passo muito tempo com as minhas vacas, e, definitivamente, elas mugem com um sotaque de Somerset”, dizia –, Jonh Wells, especialista em fonética da Universidade de Londres, debruçou-se sobre o assunto.
O que descobriu deixou meio mundo boquiaberto: diz ele que, em pequenas populações, como rebanhos, é possível encontrar variações no dialecto que são mais afectadas pelos vizinhos mais próximos da mesma espécie. Mais disse que já foram identificadas diferenças no gorjeio de pássaros da mesma espécie mas de diferentes regiões.
Tudo isto me trouxe à memória um apreciador de vinhos que um dia conheci. Bebia um copo de verde branco, dava um estalido com a língua, e anunciava solenemente: “- Este é da encosta de Perre!”. Bebia outro, outro estalido e: “- Terras baixas de Bertiandos!”. Um terceiro: “- Veiga de Mazarefes!”. Lá chegará o dia em que bastará a um boieiro ouvir um mugido para que possa dizer: “- Esta é da vacaria do Ernesto!” ou “ – Esta é do paul de baixo! ” ou então: “- Eh pá, esta não é de cá!”.
Lloyd Green, o nosso lavrador de Somerset disse mais: “- Acontece o mesmo com os cães; quanto mais perto estamos deles, mais facilmente ficam com a nossa pronúncia”.
O que eu daria para ouvir o cão do João Malheiro!

2 comentários:

Tozé Franco disse...

Já havia em Portugal uma anedota sobre a maneira como as vacas de várias regiões faziam "Mu"!

Anónimo disse...

Saca com fe e cria uma nova doutrina!!!!