Num destes dias, na abertura das notícias da noite de um dos canais, as sacrossantas notícias do horror. O repórter, não sei já se do Norte de Israel se do Sul do Líbano, dá-nos a sua visão dos acontecimentos. Mostra os estragos, grita impropérios para os do outro lado, põe aquela carinha de choque que tinha já posto na reportagem sobre o Mark Dutroux, dá-nos uma prelecção sobre armamento pesado, menos pesado e ligeiro, mostra um grande plano da família que perdeu tudo e despede-se dos telespectadores agradecidos. Amanhã, fará uma incursão ao outro lado e a reportagem será de lá. Mas só a geografia mudará, o directo será, penosamente, o mesmo: os estragos, os impropérios, o semblante, a prelecção, o grande plano.
Não me recordo se consegui assistir à totalidade da reportagem, mas lembro-me de na altura ter pensado em Miguel Torga quando visitou Rio de Onor. Dizia ele: “Ao cabo de oito dias de permanência num mundo destes, com sua língua própria, seus costumes e suas leis, nada escrevi sobre ele, nem sinto que venha a escrever grande coisa. Qualquer jornalista apressado, sem as sete horas de caminho que eu fiz sobre um macho para aqui chegar, faria melhor do que eu. Instalado num hotel de Bragança, com três informações e duas anedotas teria assunto para uma reportagem sensacional.”
Pois é, enquanto que os nossos repórteres não conseguirem deslocar-se sobre um macho continuarão a fazer reportagens incolores, inodoras, insípidas e, as mais das vezes, imbecis.
1 comentário:
Concordo plenamente consigo.
Não haja dúvidas que, muitas vezes, nos são contadas histórias que vão muito para além da realidade, seja na guerra ou quando há um acidente (lembram-se da tragédia da ponte de Castelo de Paiva?) sempre à procura de mostrar o desespero das pessoas não respeitando a sua privacidade.
Há, por vezes, falta de bom senso.
Um abraço
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