06 maio 2006

NAVALHA ROMBA

Periodicamente, Clara Pinto Correia escreve no 24 Horas, mantendo uma coluna a que dá o sugestivo nome de "O fio da navalha". Na última Sexta-feira verteu lá uma prosa que de tão prodigiosa decidi transcrevê-la para que, eventualmente, mais alguns possam ter a oportunidade de lê-la. Dizia assim:

Fui a um congresso ao Algarve. Como a função metia fim-de-semana prolongado em hotel com praia e piscina, além de muitos outros daqueles entretenimentos de que a juventude gosta, incluindo até karaoke, resolvi levar os meus rapazes. E claro que houve outros colegas que tiveram a mesma ideia. Chegámos tarde, noite fechada, mesmo prontos a cair mortos na cama, eu com uma boa dose de vodka e eles com uma boa dose de televisão. No dia seguinte, o cenário não podia ser mais promissor: céu azul, sol a brilhar, mar a perder de vista, voos de gaivotas, a piscina convidativa mesmo debaixo das nossas varandas, as falésias cintilantes na luz da manhã. Eu fui trabalhar e eles atiraram-se com unhas e dentes à tarefa séria de se divertirem até não poderem mais. E assim foi que comecei logo a ouvir umas conversas, cada vez mais intensas, sobre duas meninas que não paravam de olhar para eles. A certa altura, no bar, mostraram-me as tais meninas – e juravam a pés juntos que, de cada vez que eles passavam, elas olhavam. No dia seguinte, dei eu um salto à piscina e às tantas vi as tais meninas a falar com uma colega do congresso. Quando elas se afastaram, não resisti a perguntar-lhe quem elas eram. “São minhas filhas,” disse ela. E depois acrescentou, com um ar divertido: “Por acaso, olhe... estão sempre a dizer que os seus filhos não param de olhar para elas!”

Desculpe, Clara, mas depois de ler esta pérola fiquei deveras curioso:
- Pagam-lhe por escrever estas coisas?

1 comentário:

Citadino Kane disse...

Há um niilismo nonsense preso ao nimbo infante de Clara Pinto...
Não combinando o escrito com o que fica subentendido no título da coluna da mesma no 24 Horas.
Neste fio de navalha eu ando tranqüilamente, há espaço de sobra, não corta nada.
Um abraço Carlos,
Pedro